São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Marcha

RODRIGO BUENO

Nesta semana, os trabalhadores rurais marcharam até Brasília exigindo a reforma agrária. No próximo domingo, será a vez de outros profissionais do campo, os jogadores de futebol, se "unirem" por uma justa causa.
Grandes nomes do esporte, como Maradona, Cantona, Zé Maria, Stoichkov, Vítor Baía, Mancini, Brolin, Karembeu, Vialli e Blanc, entre outros, marcharão até Barcelona para um pretenso "jogo sindical".
A princípio, a partida arrecadaria fundos para Bosman, jogador que conseguiu na Justiça o direito à liberdade profissional para todos os atletas do Mercado Comum Europeu.
Mas, infelizmente, os futebolistas não estão tão unidos como os sem-terra brasileiros.
Jogadores espanhóis, que se sentem prejudicados com os efeitos do caso Bosman, protestaram, e o "jogo sindical", que levantaria os atletas do planeta contra as tiranias dos cartolas, deve ser agora só um confronto entre uma seleção da Europa e outra do resto do mundo.
Bosman, que iria angariar 65% da renda, não receberá ajuda nenhuma e, mais que isso, a Associação Internacional de Futebolistas Profissionais, que organizou a partida, percebeu que a união da categoria ainda está longe de existir.
E quem ganha com isso? Os dirigentes que permitem jogos quase que diariamente, marcam partidas em horários estapafúrdios, organizam torneios sem sentido e exploram a imagem dos próprios jogadores.
A esperança, no entanto, continua. Liderados por Maradona, os mesmos jogadores que irão atuar no próximo domingo pretendem fazer um jogo-homenagem a Bosman na Bélgica, país onde nasceu o jogador.
Se os sem-terra cruzaram quilômetros a pé munidos de enxadas e foices, por que os craques do futebol mundial não podem desfilar alguns metros nas suas Ferraris com suas chuteiras pelos seus interesses?

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