São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997 |
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Um mapa da epidemia no Brasil
DAVID EVERSON UIP
Nos indivíduos com mais de 13 anos a principal forma de transmissão, em números absolutos, continua sendo através do contato sexual de homens que fazem sexo com outros homens. No entanto, observa-se um aumento na proporção dos casos em que o uso de drogas intravenosas é o fator identificado com o modo de transmissão da infecção que evoluiu de 12%, no período de 1980-88, para mais de 22% em 1996, e da transmissão heterossexual, homem para mulher, que no mesmo período foi de 3% para mais de 30%. Outros indícios da importância que a transmissão heterossexual vem assumindo é a redução da razão homem-mulher dos casos da doença, que no início da epidemia era de 30:1 e hoje é próximo de 2:1, e o aumento da transmissão vertical (de mãe para filho, periparto). A transmissão sanguínea por transfusão vem decrescendo ao longo dos anos, como resultado das políticas de controle da qualidade do sangue e derivados que vêm sendo adotadas no país. A análise pode ser feita sob outro aspecto: o da distribuição geográfica dos casos no território. A epidemia é preponderantemente urbana. Nesse sentido, verifica-se um movimento de desconcentração dos casos, identificado pelo aumento de casos em todas as unidades da federação. Nos grandes centros urbanos, a epidemia está se difundindo mais intensamente, e, paralelamente, há um progressivo envolvimento dos centros de médio porte. Os deslocamentos de grandes parcelas da população, motivadas pela busca de trabalho, e o fato de essa população ser predominantemente jovem e sexualmente ativa com certeza desempenham um papel nesse progresso. Nota-se um envolvimento progressivo de diferentes camadas da população, principalmente as menos favorecidas dos pontos de vista social e econômico. Enquanto mantém sua atividade nos círculos atingidos desde o início da epidemia, a doença está se estendendo a parcelas da população relativamente preservadas, atingindo de forma crescente a população geral. Faixa etária No momento, a Aids é a principal causa de morte em adultos entre 20 e 50 anos em 15 países. Durante a próxima década, provavelmente a Aids será o maior determinante de mortalidade nessa faixa etária em praticamente todos os países do mundo. Calcula-se que no ano 2000, 38 a 110 milhões de infecções terão ocorrido entre adultos desde o início da epidemia, 85% dessas nos países subdesenvolvidos. A amplitude dessa estimativa considera as incertezas relativas ao curso futuro da pandemia na Ásia, América Latina e Europa Ocidental e a magnitude dos esforços efetuados globalmente para responder à epidemia. O Brasil e o mundo persistem altamente vulneráveis ao HIV. As ações preventivas envolvem mobilização de recursos técnicos e financeiros, a universalização de informações da educação, de serviços e recursos diagnósticos e terapêuticos, e do acesso aos métodos de proteção. Vemos que as perspectivas no curto prazo não são muito animadoras. A pandemia continua a progredir em todas as regiões, e conviveremos com a Aids nas próximas décadas. A despeito desse panorama assustador, não há dúvidas quanto aos enormes avanços obtidos no tratamento de tão complexa e multifatorial síndrome. Um fato recente, de grande significado, foi a diminuição da procura de leitos para internação de pacientes com Aids acometidos de infecções oportunísticas e/ou tumores. A descoberta de novos medicamentos antiretrovirais, destacando-se as antiproteases e as antiintegrases, agentes moduladores da resposta imune-humoral e intervenções genéticas, justificam o otimismo realista na busca do controle da doença. Outros aspectos de igual relevância referem-se às formas ágeis e menos onerosas de atendimento aos pacientes HIV/Aids. Casas de apoio, ambulatórios multissetoriais, hospital-dia e acompanhamento domiciliar são exemplos indiscutíveis de aprimoramento. Os excepcionais recursos diagnósticos, a maior experiência das equipes multiprofissionais e o desenvolvimento de protocolos científicos multicêntricos nacionais e internacionais nos garantem acesso à modernidade. É de responsabilidade da sociedade oferecer, sem discriminações ou preconceitos, a todos os brasileiros que necessitem, oportunidades semelhantes de assistência médica que objetivem uma maior e mais digna sobrevida. Texto Anterior: Saiba como prevenir Próximo Texto: Drogas são caras e não curam Índice |
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