São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cresce nos EUA número de jovens infectados

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Especialistas norte-americanos temem que o programa de prevenção à Aids esteja começando a entrar em colapso.
As últimas estatísticas mostram que o número de jovens menores de 25 anos com Aids nos Estados Unidos está aumentando.
Segundo o Instituto Harvard de Prevenção à Aids, metade dos indivíduos no país que descobriram ter o vírus HIV no ano passado não tinham completado 25 anos. Em 85, 7% dos casos de Aids ocorriam em adolescentes (13 a 19 anos). Em 1996, o número chegou a 20%.
"Houve um relaxamento grave na prevenção, principalmente entre os mais jovens e os de classe social menos favorecida", constata o pesquisador Chris Collins, do Centro de Estudos de Prevenção à Aids da Universidade da Califórnia, em San Francisco.
Autor do estudo "Desinibições Perigosas: Como os EUA Estão Deixando a Aids Se Tornar uma Epidemia entre os Jovens", Collins diz que, a cada ano, 25% dos adolescentes entre 13 e 19 anos com vida sexual ativa contraem alguma doença sexualmente transmissível. "As descobertas de novas formas de tratamento passaram uma imagem errada de que a Aids já não é tão grave. Os grupos mais desinformados deixaram de lado a neurose da prevenção e se arriscaram mais. É hora de voltarmos à neurose do final dos anos 80."
Para Collins, uma das provas do relaxamento é o uso da camisinha. Ele diz que 63% dos alunos do último ano ginasial mantêm relações sexuais com preservativo. Entre os alunos do colegial, há uma queda para 50%.
"No colegial, as meninas começam a tomar a pílula, reduzindo o risco de gravidez, e os meninos, sem se preocupar tanto com a Aids, abrem mão da camisinha."
Negros e latinos
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, no Estado da Geórgia, até o final do ano passado 581.429 pessoas já tinham sido reportadas com Aids no país. Desse total, 84% eram formados por homens, 15%, mulheres, e 1%, crianças.
Apesar de ser menos frequente entre as mulheres, a doença tem se alastrado entre as adolescentes.
Negros e latinos constituem outros grupos que preocupam. "Em 1996, a proporção de negros contaminados ultrapassou a de brancos", afirma Collins.
"E não se trata só de Aids. Em 1995, a porcentagem de negros com gonorréia era quatro vezes maior do que a de brancos."
Para Collins, a marginalização é uma das causas da disseminação de doenças sexuais entre negros e latinos. "É um problema social em que todos nós temos uma parcela de responsabilidade."
Educação
Um dos projetos do governo norte-americano para combater a doença entre os adolescentes é tornar as aulas de educação sexual nas escolas mais práticas.
Pesquisas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças indicam que 87% dos professores da disciplina nas escolas passam noções básicas a respeito da Aids.
A maioria, no entanto, representada por 78% dos professores, enfatiza em suas aulas a importância da abstinência sexual para evitar a doença. Apenas 37% deles preocuparam-se em ensinar os adolescentes a colocar a camisinha.
"Talvez esteja aí, e o governo está tomando consciência disto, uma das razões de 47% dos adolescentes acharem que precisam de mais instruções sobre prevenção à Aids", declara Collins.

Texto Anterior: Os riscos de uma tragédia
Próximo Texto: A luta contra o tempo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.