São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Casos crescem no país

ROBERTO IIZUKA
DA REPORTAGEM LOCAL

Consultores do Ministério da Saúde (que preferiram não se identificar, por não estarem autorizados a falar) afirmam que o número de casos de Aids no Brasil estaria se estabilizando. Dados do Ministério mostram que em 1994 o número de doentes chegou a 15.572. Em 1995, houve uma pequena queda, atingindo 15.402 pessoas. Entre 1996 e 1º de março de 1997 -números ainda não consolidados, segundo o órgão- os doentes de Aids chegaram a 11.037. Desde 1980, o país já contabilizou 103.262 casos. Desses, 50,5% -52.099- já morreram.
Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP), diz, no entanto, que o país ainda não atingiu um patamar de estabilidade. "A curva continua ascendendo, como era de se esperar, o que também acontece na África e nos países do sudoeste asiático. A epidemia está em ascensão nos países do Terceiro Mundo."
Para o médico, o mesmo vem acontecendo no Brasil. "Como disse o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a Aids está ficando com a cara da miséria."
O médico acredita que, no Brasil, as campanhas de prevenção não são feitas de forma sistemática. "As campanhas são iguais às vacinas. Se você não der um reforço permanente, elas perdem sua eficácia."
Rosenthal afirma ainda que "campanhas, por si só, já denotam uma fraqueza, porque só acontecem quando a situação fica grave".
"A Aids veio para ficar e deve ser submetida não a uma campanha, mas a uma educação continuada. Tem de fazer parte do currículo escolar, ser discutida nas empresas, em atos públicos etc."
David S. Lewy, coordenador do grupo de Aids da Universidade Federal de São Paulo (SP), acrescenta outro problema. "Nunca foi feita uma avaliação do impacto das campanhas no Brasil", diz.
Lewy diz ainda que as campanhas têm tido dificuldade em atingir os adolescentes.
"A Aids tem crescido entre os jovens, que não se previnem. Isso é verificado, por exemplo, quando se constata o aumento do número de adolescentes grávidas."
Segundo Rosenthal, os novos medicamentos, aplicados em pacientes com Aids, são capazes de reduzir o período e o número de internações.
"Mas o trabalho de prevenção é mais importante do que a distribuição de medicamentos", afirma.
Segundo ele, que também acompanha pacientes no Hospital do Servidor Público e no Hospital Albert Einstein, ambos em São Paulo, a Tailândia conseguiu reduzir a curva de novos casos distribuindo uma quantia milionária de camisinhas. "Essa seria a a situação ideal no Brasil", afirma.

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