São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997 |
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As vítimas femininas
ROBERTO IIZUKA; VANESSA DE SÁ
"Esse é o triste final da corrente desse novo dado epidemiológico -a introdução da mulher no contexto da Aids", afirma Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP). O dado, divulgado por Naila Santos, diretora do departamento de epidemiologia do Centro de Referência e Treinamento de Aids, em São Paulo, mostra que o perfil da doença entre mulheres está cada vez mais se distanciando do que é verificado em países do Primeiro Mundo. "Na Europa e Estados Unidos, por exemplo, está havendo um aumento do número de casos entre mulheres. Mas hoje a razão gira em torno de 8 homens para cada mulher. No Brasil, houve uma queda vertiginosa na diferença entre homens e mulheres doentes", diz David Lewy, coordenador do grupo de Aids da Universidade Federal de São Paulo (ex-Escola Paulista de Medicina). Para Rosenthal, "está havendo uma transformação no caráter epidêmico da doença. A quantidade de mulheres doentes é muito alta. Espera-se que no ano 2000 a proporção seja de um para um". Médicos e autoridades ouvidos pela Folha não chegam, entretanto, a um consenso sobre os motivos do aumento de mulheres doentes no país. Só arriscam dizer que as razões são muitas e complexas: vão desde a omissão da bissexualidade pelos parceiros dessas mulheres à dificuldade de as mulheres discutirem a relação extraconjugal com os companheiros. Segundo Naila Santos, entre 35% e 40% das mulheres são contaminadas por parceiros usuários de drogas, cerca de 15% por companheiros que têm múltiplas parceiras e entre 8% e 9% dos casos devem-se ao fato de os parceiros serem bissexuais. Rosenthal também considera que o aumento da transmissão heterossexual seja cada vez maior em função do uso disseminado de drogas. "Mas há dificuldades em estudar o perfil da Aids no Brasil, porque envolve comportamento sexual. O que verificamos é que, muitas vezes, o homem prefere dizer que é usuário de drogas do que bissexual", diz. Rosenthal afirma também que o advento da Aids não levou a uma mudança no comportamento sexual. "Muitas pessoas continuam não usando preservativos." E conclui: "A imensa disseminação de informações sobre tratamentos contribuiu para que as pessoas passassem a acreditar que, hoje, a Aids não é tão perigosa, porque já há inúmeras formas de coibi-la." (Roberto Iizuka e Vanessa de Sá) Texto Anterior: A luta contra o tempo Próximo Texto: Casos crescem no país Índice |
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