São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Cinzas de guru do LSD vão para o espaço

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez meses e 20 dias após a sua morte, Timothy Leary, o profeta do LSD e da contracultura norte-americana, vai finalmente descansar onde sonhava: suas cinzas serão enviadas amanhã ao espaço.
Além de Leary, as cinzas de outras 23 pessoas vão participar deste inédito "enterro espacial", promovido pela Fundação Celestis, uma empresa fincada na Terra, no Estado do Texas (sul dos EUA).
Uma amostra das cinzas de cada participante do enterro foi lacrada dentro de uma pequena cápsula, do tamanho de um batom. As 24 cápsulas foram colocadas dentro de uma espécie de lata de metal.
A lata viajará ao espaço de carona, acoplada ao MiniSat 1, um satélite científico espanhol, que deverá ser lançado amanhã, às 9h (horário de Brasília), a partir das ilhas Canárias (Espanha).
A Celestis cobrou a "bagatela" de US$ 4.800 de cada família interessada em enviar as cinzas de seu ente querido ao espaço.
Lixo espacial
A Fundação Celestis prevê que as cápsulas ficarão em órbita aproximadamente por seis anos.
Após esse período, ao reentrar naturalmente na atmosfera, o bólido que contém as cinzas deve se evaporar -o que também faz desse enterro espacial um evento ecologicamente correto.
"Não queremos aumentar o lixo espacial", disse à Folha Richard Braastad, diretor da Celestis.
O "vôo fundador", como foi batizado pela Celestis, vai levar as cinzas de pessoas que, de maneiras diferentes, manifestaram interesse pela vida no espaço.
Timothy Leary ouviu falar da empresa alguns dias antes de morrer, em 31 de maio de 96, e assinou, ele próprio, o contrato com a Celestis para o envio de suas cinzas.
Mas o seu caso é uma exceção. Os demais participantes da "viagem" morreram antes da criação da empresa, em 1994 -e estão tendo suas cinzas embarcadas por desejo de seus familiares.
Além de Leary, também estão indo para o espaço as cinzas de Gene Roddenberry, criador da série "Jornada nas Estrelas", e de Krafft Ehricke, engenheiro que defendia a idéia de que o desenvolvimento global passava pelo desenvolvimento de recursos extraterrestres.
Também estão embarcando no foguete Pegasus XL, que vai levar as cápsulas ao espaço, cinzas dos dois homens que, nos anos 80, tiveram a idéia de oferecer um serviço de funerais no espaço, nos moldes do que viria a ser a Celestis.
Em 1983, James Kuhl, Franklin Beauford e um terceiro sócio criaram uma empresa e imaginaram enviar os restos mortais de 10 mil pessoas para o espaço, mas a idéia não prosperou. "O nosso projeto é uma reencarnação desta idéia", afirma Braastad.

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