São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Panteras à brasileira

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nas últimas semanas, jornais e revistas especializados em televisão mostraram fotos e mais fotos de Malu Mader empunhando um revólver para a publicidade do seriado "A Justiceira".
Talvez nem todos os queixos caíram, posto que esse tipo de seriado já faz sucesso por aqui desde que Farrah Fawcett fez a sua primeira escova de cabelo na abertura do famoso "As Panteras". Mas, sem dúvida, todos perceberam que, pela primeira vez, uma atriz brasileira, e não um ator, era quem iria fazer justiça com as próprias mãos. E que ela estaria armada!!!
Antes de Malu Mader, outra Malu, a "Mulher", também iria sozinha à luta para manter sua dignidade e força femininas. Mas, para o público mais versado no feminino pós-ditadura e do recém-adquirido direito ao divórcio do começo dos anos 80, as armas de "Malu Mulher" eram frases tiradas de pensamentos "Gestalt", nas quais reinavam os "A nível de..." e os "Repensar a relação" ou o infalível "Vivenciar essa coisa da mulher". "Malu Mulher" era "cabeça".
Mulheres, dentro da teledramaturgia brasileira, quase nunca pegam em armas de fogo, preferindo matar seus inimigos afogando-os num mar de lágrimas.
Yoná Magalhães, em "Simplesmente Maria", usava a máquina de costura como metralhadora, quando, depois de abandonada grávida pelo homem que a seduzira, costurava tudo o que via pela frente para se tornar milionária e se sentir vingada. A única coisa que a mantinha acordada em cima de sua "Vigorelli", todas as noites da primeira fase da novela, era o fato de seus pés se manterem molhados numa poça de choro.
Em "Dona Xepa", Yara Cortes -e antes dela, Alda Garrido- também era abandonada pelo marido, e por isso, vendia até o último repolho que houvesse em sua barraca de feira para educar seus filhos, sendo que os mesmos, de vergonha, lhe viravam as costas.
Mamãe Dolores chorava e fazia o país inteiro chorar, para criar o filho adotivo, Albertinho Limonta.
O poder de fogo de suas lágrimas e sacrifícios junto ao público de "O Direito de Nascer" faria os tiros da mais potente bazuca parecerem biriba de festa junina.
Não para fazer justiça, mas por defesa da honra, algumas atrizes já estiveram com a pistola na mão.
Cássia Kiss enchia de balas a venenosa Odete Roittman de Beatriz Segall, em "Vale Tudo", achando que a megera era na verdade a amante do seu marido, interpretado por Reginaldo Farias.
E Cristiana Oliveira defendia sua virgindade, à la Doris Day, de sua Juma em "Pantanal" até a última bala de seu trabuco. Quando não se transformava numa onça. Ou seria "Pantera"?
Mesmo sem qualquer arma de fogo, mas usando veneno como poucas cobras o sabem, Flora Geny infernizava a vida de todos em "A Outra Face de Anita", enquanto a já citada Yara Cortes usava o poder bélico de seus "pavês", em "Marron Glacê", para adoçar o coração de seu inimigo, o vingativo Otávio (Paulo Figueiredo).
Mas houve uma vez em que todas as armas citadas foram usadas na mesma novela por uma única atriz: em 1966, Nathália Thimberg "envenena" seu casamento, "atira" no amante, "chora" mais que o Dilúvio no seu julgamento e "adoça" o público com uma interpretação memorável, em "A Ré Misteriosa".

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