São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997 |
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Como chegou a bibliotecário
FREE-LANCE PARA A FOLHA Os 4 mil livros que Claudemir possui em 10 m2 equivalem a 13 vezes o tamanho do acervo da biblioteca Menotti Del Picchia, em São Paulo, que possui 15 mil livros dispostos em 500 m2. Ou seja, Claudemir botou, literalmente, fim à sala do barraco, usada pela mãe, testemunha de Jeová, para promover encontros religiosos.A história toda começou com as aulas de alfabetização para vizinhos. O chão do barraco, feito de cimento queimado, passou a ser encerado, religiosamente, toda sexta para receber os alunos. Quanto às paredes, os sete integrantes da família, com o tempo, foram dando adeus a elas. "Ganhei carteiras e livros de algumas pessoas e passei a ensinar o abecedário para crianças de sete, oito anos, dentro de casa. Cursava à tarde a 3ª série e ficava com os alunos das 17h às 20h. Com o tempo, comecei a dar aulas para jovens e adultos também. Tive, então, de dividir a sala em pré, 1ª, 2ª, 3ª séries e passei a cobrar R$ 10 por mês de cada aluno", conta Claudemir. Segundo ele, havia mães que "preferiam não levar o filho para a escola porque as professoras eram chatas e brigavam com os alunos". Um deles, Alexandre Ueslei Pinheiro, 11, confirma: "Três horas por dia, o Claudemir ficava me ensinando a fazer conta de divisão e multiplicação. Minha mãe não queria que eu fosse na escola porque nunca aprendia. Também, as professoras gritavam o tempo todo! Aí eu ficava com medo de perguntar as coisas." Nos seus quatro anos de "magistério", Claudemir diz ter alfabetizado, no mínimo, 50 moradores de Paraisópolis. A passagem de professor a bibliotecário aconteceu quando ele chegou aos 14 anos. O número de alunos e livros havia aumentado bastante, mas o espaço físico não acompanhou esse crescimento. "Passei, então, a emprestar os livros para que as pessoas estudassem em casa. Comprei um fichário para relacionar as obras que possuía, confeccionei uma carteirinha, e deu no que deu!", lembra o garoto, que atende seus sócios de domingo a domingo, sem hora determinada. Além de livros, Claudemir passou a ganhar roupas, brinquedos e alimentos que são distribuídos para os mais necessitados (leia abaixo como fazer doações). A única pessoa mais sacrificada nessa história toda foi a religiosa mãe de Claudemir, Gessi da Conceição. "Como é que vou fazer uma reunião com as irmãs, se a minha sala não existe mais? Mas tubo bem. O importante é que Claudemir continua usando esse caminho da casa para praticar o bem", diz ela. Claudemir parou de dar aulas, mas não perdeu a vontade de ser professor. Seu sonho é concluir um curso de Letras. Texto Anterior: Semana terá atrações internacionais de balé e coral, além de rap carioca e mostra de cinema sobre o Nordeste Próximo Texto: Paraisópolis tem seu Robin Hood Índice |
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