São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Paraisópolis tem seu Robin Hood

RODRIGO CARDOSO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Imagine um garoto de 10 anos ensinando a cartilha para uma mulher de 30. E mais: ela termina as sessões de aulas sabendo ler e escrever. Foi mais ou menos assim que o garoto Claudemir Alexandre Cabral começou a ganhar a fama de ilustre morador da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Hoje, aos 16, ele é dono de uma biblioteca, que montou no meio da favela. Para ser mais preciso, na sala do barraco onde mora.
Segundo sua mãe, Gessi Maria da Conceição Cabral, esse espírito altruísta surgiu depois que Claudemir descobriu que era diabético. Impedido pelo médico de fazer esporte, ele se limitava a passar o tempo assistindo os amigos jogarem pelada na rua. Um dia, cansado da vida de espectador, disse à mãe: "Ainda vou poder ajudar de alguma forma o pessoal daqui."
Claudemir hoje é uma espécie de Robin Hood de Paraisópolis que, ao contrário do lendário personagem inglês, não rouba dos ricos, mas ganha para dar aos carentes.
A Biblioteca Escola Crescimento Educação Infantil, criada em 95, tem um acervo estimado em 4 mil livros, 420 sócios, um computador e promove cerca de 25 empréstimos por dia. Claudemir só cobra multa, de R$ 0,50, em caso de atraso na devolução.
Os livros didáticos são os que têm maior saída e podem ficar com os sócios durante todo o ano letivo. Assim, Claudemir ajuda as famílias que não podem comprar os títulos exigidos pela escola.
Foi o caso de Francisco das Chagas Lopes da Silva, 13: "Desde que me associei, há uns seis meses, li sete livros da coleção Vaga-Lume, além de ter pego vários didáticos para poder estudar".

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