São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Dissidente quer 'impedir a guerra'

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Hwang Jang-yop, o principal dirigente a fugir da Coréia do Norte, chegou ontem a Seul, a capital sul-coreana, e declarou que sua missão é "impedir a guerra" entre os dois países. Ele descreveu a tensão na península coreana como "confronto entre uma ditadura feudal e uma democracia livre".
Ex-ideólogo do regime comunista norte-coreano, Hwang, 74, se refugiou no consulado da Coréia do Sul em Pequim em fevereiro.
No dia 18 de março, voou para as Filipinas, depois de arrastadas negociações entre a China e as duas Coréias. Em território filipino, permaneceu num esconderijo cercado por seguranças, com medo de retaliação norte-coreana.
Embarcou ontem num avião fretado da Air Philippines. Jatos sul-coreanos acompanharam o Boeing-737, para proteger de eventual ataque norte-coreano.
Em Seul, a polícia montou esquema de segurança especial para receber Hwang e Kim Duk-hong, assessor que também desertou. Hwang parecia vestir, sob o paletó, colete à prova de balas.
Sua fuga aponta para a existência de disputa entre facções no governo norte-coreano. O país enfrenta o fracasso do modelo econômico comunista e a falta de alimentos, causada também por enchentes.
Questionado sobre o futuro da península coreana, Hwang respondeu: "Vim à Coréia do Sul porque estou convencido de que a única saída é impedir a guerra dando as mãos aos irmãos do sul".
A Coréia do Norte parece acreditar que a única opção é usar sua poderosa força militar, construída ao longo de décadas", disse ele.
Nas Filipinas, funcionários do governo local ouvidos pela agência de notícias "Reuter" disseram que Hwang "lamentou os erros cometidos quando estava no poder e prometeu passar o resto de sua vida tentando corrigi-los".
Hwang deu aulas de marxismo a Kim Jong-il, o principal dirigente da Coréia do Norte. O regime norte-coreano é um dos mais isolados do planeta, e há poucas informações sobre seu funcionamento e sua estratégias.
Hwang representa importante fonte de informações sobre a Coréia do Norte. O governo sul-coreano já anunciou que vai passar aos EUA e Japão dados fornecidos pelo desertor.
"Antes descrito como um paraíso socialista, a Coréia do Norte se transformou num pedinte internacional", disse Hwang. O regime norte-coreano pede ajuda em alimentos e teria desistido de tentar impedir a saída de Hwang da China em troca de carregamentos de arroz.

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