São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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TEMPO PARA COMPETIR

Como era previsível, terminou sem consenso a reunião dos vice-ministros do Comércio das Américas, que deveria pavimentar o caminho para o encontro dos ministros, marcado para maio em Belo Horizonte.
Na prática, a impossibilidade de consenso se deve a uma divergência de fundo entre o Mercosul, com o Brasil à frente, e os EUA em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, que englobará os 34 países das Américas, menos Cuba).
Por mais que a natureza da divergência venha embrulhada na retórica cautelosa da diplomacia, o conflito de fundo é relativamente simples de definir. O Brasil pede um tempo para respirar antes de promover uma nova rodada de abertura de sua economia. Os EUA, por sua vez, consideram que o mundo moderno não concede tréguas e impõe a necessidade de iniciar, já em 1998, a derrubada das barreiras alfandegárias.
Não se trata de uma questão esotérica ou distante do cotidiano do cidadão comum, por mais que a complexidade do tema pareça indicar o contrário. O que está em jogo, na prática, é a criação de uma sociedade entre o Brasil (e demais países do continente) e a maior potência do planeta.
Ninguém se associa a um parceiro tão poderoso sem correr riscos. O importante, por isso, é dar tempo para que os produtores dos países menos desenvolvidos possam se adaptar, sob pena de sucumbirem. Parece, portanto, bastante razoável a cautela com que os negociadores brasileiros vêm se conduzindo nas discussões preliminares.
Mas é igualmente importante que não se tome essa cautela como uma espécie de habeas corpus para um protecionismo indefinido.
Tudo indica que a Alca será efetivamente constituída, seja qual for o prazo. Por extensão, a competição com os Estados Unidos vai acontecer, cedo ou tarde, e é conveniente que o Brasil comece o quanto antes a se preparar para ela.

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