São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Seis alunos de faculdade sem sede própria garantem nota 'A'

DANIELA FALCÃO
DA ENVIADA ESPECIAL A NOVA ANDRADINA (MS)

A Faculdade de Administração de Nova Andradina (MS) -cidade de 50 mil habitantes a 280 km de Campo Grande- recebeu conceito A no provão, embora não tenha sequer sede própria nem reconhecimento do MEC.
A faculdade só funciona à noite, em um prédio que durante o dia abriga alunos de 1º grau da Escola Estadual Irman Ribeiro da Silva.
Nenhum dos nove professores da faculdade tem mestrado ou doutorado e todos são horistas -recebem pela hora trabalhada e não se dedicam exclusivamente ao curso. Cada um recebe cerca de R$ 7,30 por hora de trabalho.
Também não há microcomputadores para uso dos alunos e a biblioteca conta com 8.000 volumes, sendo que pelo menos metade deles não tem nenhuma relação com administração (são livros de literatura).
O "sucesso" da faculdade de Nova Andradina é resultado de uma casualidade. Só seis alunos se formaram no ano passado. Os outros 35 que prestaram vestibular em 93 abandonaram o curso por causa da demora da faculdade em obter reconhecimento do MEC.
"No início a gente ficou apavorado, porque sabia que seria difícil competir com os alunos de cidades grandes, onde as faculdades têm mais recursos e os currículos são mais atualizados", conta a bancária Sueli Soares Bastos, 22, que estava entre os seis alunos.
Distorção
A nota A que a Faculdade de Administração de Nova Andradina recebeu no provão não significa que seus alunos tenham adquirido as mesmas habilidades ao longo do curso que estudantes de instituições consideradas "centros de excelência" que tiveram o mesmo conceito.
Entre os 23 alunos do 3º ano da faculdade sul-mato-grossense, por exemplo, não há nenhum que fale inglês e só dois já acessaram a Internet (rede mundial de computadores).
Já na Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (SP), a partir do 2º ano, boa parte da bibliografia que deve ser lida pelos alunos só é encontrada em inglês.
Essas distorções foram causadas por dois motivos: o baixo nível do provão (a maioria dos alunos achou o exame fácil) e a elaboração do ranking a partir do resultado do teste, em vez de levar em consideração a titulação ou o regime de trabalho dos professores.
(DF)

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