São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Interior de SP tem 'polígono dos reprovados' em administração

MAURO TAGLIAFERRI
ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DE SP

A oeste e noroeste da capital do Estado, São Paulo abriga um polígono de cursos de administração de empresas reprovados no provão.
Com vértices em Marília, Avaré, Ourinhos, Itapetininga, Assis e Jaú, o bloco é formado por escolas com alunos despreparados, instruídos por professores de formação insuficiente.
Não há, por exemplo, sequer um doutor entre os 30 professores de administração da Universidade de Marília (Unimar). Nas Faculdades Integradas de Ourinhos, os docentes têm, no máximo, uma especialização -que não é mestrado.
Mesmo quando os professores querem exigir mais dos estudantes, há barreiras. Como os alunos, na grande maioria, trabalham durante o dia para pagar o estudo noturno, não é possível passar trabalhos para casa.
Até o livro é luxo. "A maioria dos professores trabalha com apostilas. Eles indicam alguns livros, mas só quem pode compra", disse Márcio José Domingues, 22, quartanista de administração na Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas de Avaré.
Dupla jornada
Domingues sintetiza o aluno da região. Recebe R$ 350,00 como escriturário da Prefeitura de Itaporanga, e enfrenta cerca de 100 km (1h30min) de ônibus para estudar em Avaré. Em transporte, gasta R$ 45,00 por mês, mais os R$ 187,00 da mensalidade da faculdade.
Após a aula, chega ao sítio onde vive por volta da 1h. "Se realmente precisar, ainda estudo um pouco antes de dormir", disse Domingues, que acorda às 7h.
O caso de Domingues não é exceção. As faculdades do "polígono dos reprovados" atendem estudantes provenientes de cidades num raio médio de 100 km de suas sedes.
"Dos nossos alunos, só 25% são de Marília e 80% trabalham", disse Eduardo Rino, diretor da Faculdade de Ciências Humanas da Unimar, onde há 650 estudantes de administração. A maioria também vem de escolas da rede estadual ou de cursos profissionalizantes.
"O aluno vem com a formação deficiente: 70% vêm da rede oficial e a gente tem de recuperá-los", acrescentou Rino.
Na Unimar, os discentes têm aulas de português, matemática, história e geografia no primeiro ano, prova de que a má qualidade de ensino na rede estadual repercute na faculdade.
Só que as instituições não os retêm, jogando profissionais malpreparados no mercado.
Mais que isso, atiram nas costas dos estudantes a responsabilidade por sua formação. "Na minha concepção, a faculdade informa. O aluno é que se forma.", afirmou Rino.
"Tudo depende muito do aluno. Se ele não quiser estudar, não adianta ter o maior dos mestres para dar aulas", afirmou o diretor das Faculdades Integradas de Ourinhos, Péricles Jandyr Zanoni.

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