São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Novo megablecaute atinge 9 milhões

WILSON SILVEIRA; FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Racionamento será inevitável no Sul e Sudeste se houver longa estiagem; consumo está no limite da oferta desde 96

O Brasil viveu novamente um megablecaute, no final da tarde de ontem, e corre o risco de ter de fazer um racionamento de energia elétrica.
Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste ficaram sem luz a partir das 18h15. Alguma regiões foram afetadas por até uma hora.
Cerca de 9 milhões de pessoas foram afetadas no país, segundo o assistente da diretoria de geração e transmissão da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), Reinaldo José Rodrigues de Campos.
O motivo da falta de luz foi o mesmo de anteontem: a queda de tensão na Usina de Furnas (em Ibiúna, interior de São Paulo) causou o desligamento de duas linhas.
Apesar de ter localizado o foco do problema, os técnicos ainda desconhecem a razão da diminuição da tensão.
O racionamento será inevitável nas regiões Sul e Sudeste, se houver uma estiagem prolongada.
Desde o ano passado, o consumo de energia está no limite da oferta, conforme apurou a Folha. A situação só não é pior porque tem chovido muito desde o ano passado.
Até o ano 2000, o Brasil vai conviver com a possibilidade de blecautes, embora esteja prevista a entrada em operação de 50 novas hidrelétricas, além da importação de energia elétrica da Argentina.
O racionamento, se for adotado, será uma forma de evitar o colapso do sistema, já que, a curto prazo, pouco se pode fazer.
Uma hidrelétrica de grande porte leva pelo menos cinco anos para ser construída. Uma de pequeno porte, pelo menos três anos.
Há casos, como o da usina Porto Primavera, no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de SP), que está em construção há 16 anos.
Há duas alternativas mais rápidas: a importação e a construção de usinas térmicas. Ambas estão sendo adotadas, mas o prazo para a energia estar disponível é de no mínimo um ano.
No caso das usinas térmicas, os produtores independentes de energia elétrica fazem lobby no Congresso para permitir o livre acesso de empresas privadas a gasodutos -o gás natural é uma das matérias-primas dessas usinas.
A questão dos gasodutos faz parte da lei que regulamenta a quebra do monopólio da Petrobrás.
Existe hoje 15% de risco de o consumo de energia ser superior à demanda. A margem de segurança ideal está na faixa de 5%. Esses percentuais são fixados com base no volume histórico de água dos rios que servem a hidrelétricas.
Com base no registro do volume dos últimos 60 anos, o Dnaee (Departamento Nacional de Água e Energia Elétrica) faz simulações da variação da água desses rios num período de 2.000 anos.
Atualmente, em 15% dessas simulações o volume de água é insuficiente para gerar a energia elétrica necessária à demanda.

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