São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Comandantes repudiam proposta de Covas

SÉRGIO KRASELIS
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

A proposta de emenda constitucional apresentada pelo governador Mário Covas (PSDB), alterando as funções das polícias Civil e Militar, foi muito mal recebida pelos 31 comandantes da Polícia Militar de todo o país que estiveram reunidos em Florianópolis (SC) quarta-feira e anteontem.
Na "Declaração de Florianópolis", documento assinado pelos participantes do 15º Encontro do Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares, eles reafirmam o papel dos policiais militares nas questões de segurança pública. O documento deve ser enviado ao Congresso.
A declaração começa com um alerta. Os comandantes se dizem apreensivos "pela manipulação emocional de ocorrências policiais que, numa sociedade democrática, devem ser tratadas tão somente sob a égide da lei e da Justiça", numa clara referência às cenas de violência de Diadema.
O novo presidente do Conselho Nacional de Comandantes Gerais das PMs, Luis Fernando Lapa, comandante-geral da PM do Paraná, criticou a Polícia Civil.
"Façam uma pesquisa junto à opinião pública para saber qual polícia é mais truculenta, a Civil ou a Militar", disse Lapa. Segundo o militar, "qualquer organização tem pessoas boas e pessoas ruins".
Para Lapa, os acontecimentos ocorridos em Diadema, no ABCD paulista, foram "atos isolados".
O antecessor de Lapa no cargo, Claudionor Lisboa, comandante da PM de São Paulo, se recusou a falar diretamente da proposta de Covas, "por não ter sido notificado oficialmente".
Lisboa, em seu discurso, disse achar "demagógico estes estudos da polícia de Nova York. Lá, os índices de criminalidade não foram reduzidos devido à unificação das polícias. Foi devido às medidas de política social." Era uma clara crítica à proposta de Covas.
Segundo o novo presidente do conselho, foram expulsos da PM do Paraná 138 policiais por indisciplina e outros delitos. "A Justiça Militar funciona", afirmou Lapa, que considera de cunho ideológico a discussão sobre a violência.
Os 31 comandantes reunidos condenam as "soluções simplistas apresentadas à população com discursos demagógicos e enfoques distorcidos" e dizem ser "essencial que se busque a evolução sem rupturas que fragilizem o sistema de defesa social".
Ao final do documento de duas páginas, os militares repudiam o que denominam de "nova ordem", segundo eles "travestida de soluções mágicas para um problema tão sério" e reafirmam o propósito de expurgar de suas fileiras os que "não forem dignos de tão nobres instituições".

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