São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Ministro assume massacre e depois recua

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

O ministro da Agricultura do Peru, o ex-refém Rodolfo Muñante, provocou um furacão político no governo Alberto Fujimori com declarações contraditórias sobre o fim da crise dos reféns em Lima.
Na noite de anteontem, as emissoras peruanas Panamericana e América veicularam uma entrevista feita pelo canal em espanhol da rede norte-americana CBS.
Nela, Muñante comentava com a repórter aspectos da invasão da casa ocupada que levou às mortes de um refém e de 14 guerrilheiros. Em dado momento, disse: "No quarto dos embaixadores, um guerrilheiro chegou a baixar a arma e levantar os braços. Foi metralhado".
Ontem pela manhã, Muñante convocou entrevista coletiva em Lima para negar o que havia declarado. "Não vi ninguém morrer e não falei em execução nenhuma. Não faz sentido", afirmou.
Com o desmentido oficial, encerrou-se a curta crise política decorrente das declarações.
Segundo a Folha apurou junto a assessores do governo peruano, Fujimori conversou anteontem à noite tanto com Muñante como com o presidente do Conselho de Ministros, Alberto Pandolfi.
Dúvidas
Mas não cessaram as dúvidas sobre a violação ou não dos direitos humanos dos guerrilheiros.
A Cruz Vermelha diz que não houve abusos. A Anistia Internacional tem um investigador em Lima coletando dados sobre o caso.
Na imprensa e nos meios políticos peruanos, a tendência é pela omissão em relação ao ocorrido.
Nenhum político de oposição ou jornal contrário ao governo questiona a morte dos guerrilheiros -no máximo, há lamentos oficiais pela perda de vidas humanas e pela opção militar em detrimento da diplomática.
Uma das poucas vozes discordantes é do Colégio dos Advogados de Lima. A entidade quer saber como morreu o refém Carlos Giusti Acuña, juiz da Corte Suprema tido como opositor de Fujimori. Conforme a Folha revelou ontem, alguns ex-reféns afirmaram que a bala que atingiu a artéria femoral de Giusti foi disparada por um soldado peruano.
O juiz estava escondido em um armário, confirmou o embaixador boliviano e ex-refém Jorge Gumucio, e não jogado no chão conforme o combinado entre os reféns na hora da invasão militar.
Gumucio não sabe quem disparou, mas alguns ex-reféns afirmaram que o tiro fazia parte de uma rajada de metralhadora disparada por um soldado "para limpar a área" no quarto onde estava o juiz.

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