São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Governo quer combater o 'efeito Miami'

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O aumento de mais de 200% no déficit da conta de viagens nos últimos três anos é a nova dor de cabeça (e alvo) dos técnicos do governo.
Na mira, o crédito farto e fácil em passagens aéreas e, de novo, as compras internacionais.
O argumento completo está num trabalho preparado por Carla Reis e Fabio Giambiagi, do BNDES, intitulado "O Aumento do Déficit em Conta Corrente no Brasil nos Anos 90: O Caso dos Serviços Não Financeiros".
Indicador
O déficit crescente em conta corrente é hoje o indicador mais preocupante nas avaliações sobre o futuro do Plano Real.
Mas, advertem os técnicos do governo, o problema não está apenas no déficit comercial (importações maiores que exportações), que deverá ficar na casa dos US$ 11 bilhões a US$ 12 bilhões "nos próximos anos".
Juros
Ou no pagamento de juros, lucros e dividendos aos investidores externos.
Os serviços "não financeiros" (tais como despesas com transporte ou turismo) são o mais novo vilão: eram responsáveis por um déficit de US$ 3 bilhões na segunda metade dos anos 80 e em 1997 deverão sangrar em US$ 10 bilhões as contas externas brasileiras.
Reis e Giambiagi recomendam a "adoção de restrições financeiras ao turismo", tais como "a redução do número máximo de parcelamentos, tanto para compra de passagens como para o pagamento de compras no exterior".
No longo prazo, o ideal é investir na infra-estrutura turística brasileira e tentar reverter isso que se poderia denominar "efeito Miami".
Com a valorização do real, massas de turistas brasileiros partiram rumo à conquista de shoppings e "resorts" mundo afora.
Freio
O trabalho é também sintomático do atual momento da política econômica. O governo já não insiste na tese de que déficits externos são bons.
Mas também não admite frear a economia ou acelerar a desvalorização cambial.
No meio do caminho há uma febre de medidas tópicas, que segundo os mais pessimistas não passam da atitude de tampar com os dedos um dique cheio de rachaduras.
Otimistas
Para os mais otimistas, é só uma questão de tempo e todas essas medidas pontuais garantirão o melhor dos mundos, com inflação baixa, crescimento econômico e equilíbrio externo.
Seja como for, aquelas férias de julho na Disneyworld ou a idéia de esquiar nos Andes estão correndo perigo.

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