São Paulo, domingo, 27 de abril de 1997
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Mapplethorpe bate público de Portinari

EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA

Hoje é o último dia para ver a exposição do controverso fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe no MAM - Museu de Arte Moderna. A mostra, que começou em 4 de março, termina hoje totalizando cerca de 25 mil visitantes.
Esse número assegura a Mapplethorpe o terceiro posto entre as exposições mais visitadas no MAM. Perde para Joan Miró, que em 1996 foi visto por 71.274 pessoas, e para o surrealista Salvador Dalí, que em 1986 teve 71.027 visitantes.
Mapplethorpe, porém, superou o público de quase 14 mil pessoas que Portinari levou para o museu em 1996.
Depois de São Paulo, a exposição seguirá para a National Gallery of Art, em Stuttgart, na Alemanha.
Ao contrário da onda de protestos e proibições que assolaram a exposição nos Estados Unidos e na Europa, aqui no Brasil a mostra passou incólume.
Não houve reclamações sobre as fotos que exibem cenas de sexo sadomasoquista e homossexual. "Eu não acho que alguém entenda a sexualidade. Ela trata de quê? Ela é sobre o desconhecido. E é por isso que é tão excitante", dizia o artista.
"As únicas reclamações que tivemos foram por conta das fotos não terem vidro anti-reflexo, o que dificultava a visibilidade das imagens. Mas elas já vieram emolduradas dessa forma de Nova York", conta Rejane Cintrão, curadora-assistente do MAM.
Obsessões
Essa passividade do público brasileiro diante das imagens de Mapplethorpe sinaliza duas possibilidades. A primeira, e mais óbvia, aponta para o fato de sermos menos moralistas quando o tema é sexualidade. Nossa cultura tropicalista absorveria mais facilmente as manifestações do corpo físico, como acontece no Carnaval, por exemplo.
A segunda possibilidade, de aspecto menos local, flagra um Mapplethorpe estandardizado como astro pop. Incorporado pela mídia e pelo discurso da transgressão, sua obra começa a perder a força que teve nos anos 80, quando virou ícone da arte engajada na luta contra a Aids.
Se num dado momento sua obra foi fundamental para explicitar as obsessões e os desejos do corpo, utilizando o microcosmo dos guetos novaiorquinos como metáfora do nosso inconsciente, hoje, ao se tornar objeto de ar te, exposto em museus ou utilizado em peças publicitárias, perde sua pulsão mais virulenta para se transformar em mostra de exotismos.
Mas, se abaixo do Equador, é possível fazer essas reflexões, o mesmo não acontece no contexto da moralidade americana.
Uma sociedade que leva a julgamento crianças de 6 e 9 anos de idade por supostos atentados ao pudor, precisa que muitos outros Mapplethorpes surjam para questionar seus valores.

Mostra: Mapplethorpe (fotografias, colagens, pinturas e objetos)
Onde: MAM (portão 3 do Parque do Ibirapuera, tel. 011/549-9688)
Quando: último dia hoje, das 10h às 17h30

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