São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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Proibida, panfletagem nos sinais continua

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Dia do Trabalho foi dia de trabalho nos cruzamentos de São Paulo. Sem saber que já vigora uma lei que proíbe o comércio e a prestação de serviço nos semáforos, promotores de lançamentos imobiliários mandaram seus contingentes para as ruas.
Às garotas que distribuíam panfletos também se juntaram vendedores ambulantes, rapazes uniformizados pedindo contribuições para entidades assistenciais e adeptos do Hare Krishna.
Nenhuma das pessoas ouvidas pela Folha sabia que a proibição já existia -a lei municipal 12.318/97 entrou em vigor anteontem, mas depende de regulamentação.
Ao tomarem conhecimento dela, todos opinaram contra.
"Se a gente sair daqui, emprego não tem. E, como a gente nunca roubou, vai acabar morrendo de fome, ou pedindo esmola nesse mesmo sinal", disse o alagoano João Bezerra, 35, um veterano dos cruzamentos, há 15 anos na esquina das avenidas Brasil e Rebouças, na zona oeste.
Ontem, Bezerra vendia bonecos do personagem "Piu-Piu" a R$ 20,00. Ele também vende ferramentas, guarda-chuvas e produtos importados do Paraguai. "Dá para tirar uns R$ 150,00 por mês."
No mesmo local, a supervisora Rose Quintas, 22, da RT Eventos, observava o trabalho de duas adolescentes que distribuíam panfletos de propaganda imobiliária. "A maioria das meninas só tem esse emprego. Muitas são mães solteiras ou têm de ajudar os pais. Não concordo com a lei", declarou.
Um exemplo é a estudante Eunice Alves, 20, que ontem entregava panfletos nas esquina das avenidas Rudge e Marquês de São Vicente (centro) para a JB Eventos.
"O trabalho é bom, dá para eu ajudar em casa. Se tiver de parar, vai fazer falta", afirmou. Eunice vive com a mãe, cozinheira, e com seis irmãos na zona sul da cidade. Uma das irmãs dela, Claudenice, também trabalha nos semáforos.
A cada dia de trabalho, das 10h às 18h, ela recebe entre R$ 17,50 e 25,00. Segundo Eunice, aluna da 8ª série, o único problema é a sujeira que os motoristas fazem ao jogar os panfletos no chão.
"Tem ainda uns caras que passam e dizem que a gente é bonitinha, convidam para tomar um chope, mas nada muito extravagante", acrescentou.
Já na praça Luis Carlos Mesquita (zona oeste), cinco garotos fardados angariavam dinheiro para a Associação Comunitária da Criança Carente. Como membros da guarda mirim da entidade, cada um ganha R$ 280,00 por mês.
"Se tirarem a gente dos sinais e criarem outro serviço será bom. A gente sofre muito debaixo do sol", disse o estudante F.M.F., 16.

A colunista Barbara Gancia está de férias

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