São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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Brasil tem doenças 'evitáveis'

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O quadro pintado pela Organização Mundial da Saúde sobre as doenças no mundo ganha cores ainda mais sombrias quando se trata do Brasil. "Estamos enfrentando as mortes prevalentes nos países ricos enquanto as doenças dos países pobres continuam fazendo vítimas entre nós", diz Waldir Mesquita, presidente do Conselho Federal de Medicina.
"A esquistossomose, a hanseníase, a malária e a tuberculose continuam atingindo e matando milhares de pessoas entre nós", afirma. "A maioria das doenças infecciosas e contagiosas que nos afligem seriam perfeitamente evitáveis." O Brasil ocupa o segundo lugar em número de hansenianos, só perdendo para a Índia.
Segundo Mesquita, as doenças circulatórias como infartos e derrames deverão permanecer na liderança no ranking das mortes. Mas a mortalidade pelo câncer e pelo diabetes crescerá muito na próxima década.
Essas duas enfermidades, em particular, são decorrentes do aumento da vida média das pessoas. A média atual de 65 anos -que já chega a 75 nos Estados do Sul- deve passar para 75 anos num período de 15 anos.
"Teremos um número cada vez maior de pessoas em idade de adquirir algum tipo de câncer", afirma Mesquita.
Na sua opinião, a situação é agravada por práticas alimentares copiadas de fora. "Os moradores dos centros urbanos brasileiros estão comendo igual aos norte-americanos. E eles comem mal."
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 97 mil pessoas morrerão de câncer este ano Brasil, 3% acima do registrado no ano passado. Cerca de 248 mil novos casos serão diagnosticados.
Segundo Marcos Moraes, diretor do Inca, 85% das causas do câncer poderiam ser evitadas combatendo fumo, álcool e adotando-se melhores hábitos alimentares.
Para fazer frente às velhas e às novas doenças, o presidente do Conselho Federal de Medicina diz que é preciso cada vez mais investir em ações preventivas. "Não se trata apenas de uma questão médica, pois médicos não faltam. O que falta é uma política de saúde, com investimentos em saneamento básico, segurança no trabalho e alimentação com qualidade."
Na sua opinião, o Estado precisa parar de tratar o dinheiro aplicado em saúde como gastos. "Não são despesas, são investimentos", afirma.

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