São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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'Adormecida', esquerda pode complicar Blair

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

O espectro da velha esquerda, geralmente levantado pelos conservadores para afastar o eleitorado dos trabalhistas às vésperas de eleições, ficou praticamente ausente nessa campanha.
A ala esquerda do partido ficou em silêncio -não tanto por temer reprimendas de Blair, mas por não querer ser responsabilizada por uma possível derrota eleitoral.
Em seu manual de campanha, o partido listou a "esquerda oculta" como um dos pontos vulneráveis que deveriam ser lidados com cautela.
O texto "vazou" para os coordenadores da campanha conservadora, que tornaram seu conteúdo público na semana passada, sem gerar muito entusiasmo.
O grupo mais proeminente da esquerda dos trabalhistas é chamado de Nova Esquerda do Novo Trabalhismo. Sua rede de influência se estende desde os comitês locais do partido até os tão temidos sindicatos, chegando ao gabinete paralelo comandado por Blair.
O grupo, que tinha 30 deputados na legislatura passada, deve compor o balanço de poder no governo com a chamada corrente "modernizadora", liderada por Blair.
Devem ter a simpatia do provável chanceler, Robin Cook, e do virtual vice-primeiro-ministro, John Prescott.
"Não queremos entrar na tática sectária, não queremos fazer oposição. Queremos ter influência", disse um dos parlamentares do grupo. A idéia é criar uma nova agenda para a esquerda. Entre as propostas estão precupações com questões ambientais e reforma constitucional.
Um ponto de conflito deve ser o relacionamento com os sindicatos. Blair quer dissociá-los para sempre da imagem dos trabalhistas, o que seria inaceitável para a ala esquerda do partido.
A estratégia do partido para lidar com a facção deve priorizar a minimização dos conflitos, mas, se necessário, Blair não deve vacilar em ordenar a expulsão do partido dos mais radicais.
Partidos de esquerda
Os partidos mais à esquerda do espectro político deram um apoio relutante a Blair durante a campanha. A estratégia foi ajudar o partido a ganhar para depois tentar modificar sua política de volta às raízes socialistas.
Alguns ainda esperam por uma revolução socialista.
"Devemos levar a chama do ódio e da raiva que existe na sociedade para uma fornalha que queimará o mundo capitalista", disse o candidato Paul Foot, do Partido dos Trabalhadores Socialistas, durante um comício em Londres.
"Hoje, a questão tem sido abordada apenas por grupelhos trotskistas. Quando a unidade pré-eleitoral não for mais necessária, todo esse potencial de mudança pode reaparecer; guerra civil."
O texto saiu na revista de esquerda "Tribune" e foi assinado por uma certa "Cassandra". O autor se identificou como dirigente trabalhista.

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