São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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Os sem-terra deles

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Parece estar em movimento na Europa a versão Primeiro Mundo da marcha dos sem-terra. Chamam-se Marchas Européias contra o Desemprego, a Exclusão e a Precariedade.
Partiram de cada um dos 15 países da UE (União Européia) e de um ou outro país próximo (Suíça, por exemplo). Confluirão em Amsterdã (Holanda), no dia 14 de junho, para coincidir com a reunião de cúpula da UE.
Há mais de uma semelhança com a marcha do MST brasileiro. Começa pelo fato de que são radicais, sem dar à palavra qualquer conotação negativa. Pedem "uma política radical e decidida de luta contra o desemprego".
Tal política "deve, urgentemente, permitir a todos os desempregados, precários e despossuídos viver dignamente e, aos camponeses, viver de sua terra".
A coincidência vem, também, do fato de que a organização não é, na essência, dos canais tradicionais de manifestações políticas (partidos e sindicatos). São "coletivos" (como o MST) que lideram, embora partidos de esquerda e ultra-esquerda peguem carona aqui e ali.
As adesões ou as simpatias são, aparentemente, as mais contraditórias. Em Palência (Espanha), arrebanharam os 32 trabalhadores de uma empresa avícola que fora desativada e não pagara a indenização de praxe.
Mas, em Genebra (Suíça), os marchadores amanheceram o 22 de abril no lago Leman, tomando café da manhã a bordo de um barco de propriedade dos vereadores da cidade.
De longe, não dá para avaliar o tamanho e importância das marchas. O relato me chega por e-mails enviados pelos organizadores, que não são, como é óbvio, observadores neutros.
Mas parece haver, nelas, a conjugação de dois fenômenos políticos contemporâneos: o deslocamento de partidos e sindicatos como focos principais da ação política e uma difusa, mas generalizada, sensação de mal-estar mesmo no mundo rico.

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