São Paulo, sexta-feira, 2 de maio de 1997
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Dona Hermínia

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Para ela, tanto faz que seja minério de ferro ou aviões. Não importa.
Com seu perfil magro, a bolsa no ombro, o vestido escuro até que moderninho de arremate branco, ela está meio zonza com a barulheira toda.
Mas a rua é assim mesmo: "pertence ao povo" e o povo, historicamente, é barulhento mesmo.
Barulhento e pode ir e vir, sabe dona Hermínia, que do susto passa à indignação e avança contra os brutamontes do batalhão de choque.
"Saiam daqui! Vão embora", ordena dona Hermínia aos soldados, que recuam.
Para espanto dos manifestantes que na rua do centro do Rio enfrentam os soldados porque são contra a privatização da Vale do Rio Doce e dos soldados que estão ali para "garantir a ordem pública" e não podem ser contra nem a favor.
Dona Hermínia foi o personagem desta semana de tantas brigas, de liminares, bombas e pedradas.
Personagem simbólica, porque, como a maioria dos brasileiros, não sabe a diferença entre Vale e Varig.
Mas brigou com os soldados que não deixavam os manifestantes em paz e também ficou com pena dos policiais militares, atacados por uma chuva de pedras.
Se soubesse, certamente dona Hermínia teria um carinho todo especial para o sindicalista que quase perdeu o dedo da mão e para o soldado que sofreu fratura no osso da cavidade ocular.
Grande dona Hermínia.
*
Atenção: o seriado "A Justiceira", da Rede Globo, pode fazer mal à saúde. No último episódio, a mocinha da trama descobre que está contaminada com radioatividade e resolve o problema tomando um banho de mar.
A esta altura deve estar no IML.

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