São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Vida agitada prejudica paladar infantil

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Poluição, cigarro e a vida agitada nas grandes cidades -que obriga os pais a deixarem seus filhos desde cedo em creches e berçários- estão contribuindo para que as crianças tenham a sensação do gosto prejudicada.
O gosto final dos alimentos é obtido através de uma delicada combinação de estímulos captados pelas papilas gustativas com os odores liberados pela comida.
Os cheiros dos alimentos, que estão sendo mastigados, sobem para o nariz por "trás" da garganta. Se as vias de comunicação entre nariz e garganta (rinofaringe, cóanas) estão "entupidas", esses cheiros não chegam ao nariz e a sensação de gosto fica alterada. Isso explica a dificuldade de sentir o gosto dos alimentos quando se está gripado.
Manoel de Nóbrega, presidente do departamento científico de otorrino infantil da Sociedade Brasileira de Pediatria, diz que crianças que vão desde cedo para creches acabam tendo mais gripes.
Elas podem acabar com quadros catarrais crônicos -obstrução das vias aéreas por secreções nasais. Essa situação, a longo prazo, pode dificultar o desenvolvimento do paladar da criança.
Quadros alérgicos, como as rinites, que provocam um aumento da quantidade de secreções e diminuem o calibre das vias aéreas (por inflamação) também podem dificultar a sensação de gosto.
Nóbrega lembra que cidades como São Paulo, em que a poluição urbana e domiciliar (cigarro, pó) têm níveis elevados, são campeãs de quadros alérgicos como a rinite.
No inverno, a queda da temperatura e a menor "renovação" de ar em ambientes mais fechados fazem o número de quadros gripais e alérgicos aumentarem.
Nóbrega disse que quanto menor a criança menor é o calibre das vias aéreas e, portanto, maior é a severidade de quadros de obstrução e da dificuldade de se processar o gosto dos alimentos.
Apelo visual
A dificuldade crônica de algumas crianças para sentir gostos mais sutis pode ser um dos fatores que explica a preferência por comidas do tipo fast food, que têm, em geral, um sabor mais forte.
No entanto a pediatra Ana Escobar, chefe da unidade de cuidados semi-intensivos do Instituto da Criança do HC-USP, afirma que o apelo visual e a propaganda são os elementos que mais influenciam a adoração das crianças por esse tipo de comida.
Ana explica que a surpresa, a cor das embalagens, o programa (ir a determinada lanchonete) e a identificação com imagens vistas na TV acabam fazendo com que a criança prefira o fast food à alimentação tradicional.

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