São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Transtorno mental preocupa

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os transtornos mentais já estão entre os cinco maiores problemas de saúde pública no país. Eles disputam em gravidade e impacto social com as doenças cardiovasculares, as infecto-contagiosas, as infecções pulmonares e as causas externas, como homicídios e acidentes de trânsito. O envelhecimento da população tende a agravar esse quadro, pois a idade está diretamente relacionada à maior ocorrência dos transtornos mentais.
A afirmação é do professor Jair Mari, titular do departamento de psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
No relatório anual que está divulgado esta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para o impacto das doenças mentais e neurológicas em populações do mundo todo. Segundo seus dados, 1 em cada 4 adultos que procuraram clínicos gerais no ano passado sofria de algum transtorno mental. O mais grave é que apenas 1% deles vinha recebendo tratamento adequado.
Segundo Jair Mari, o avanço da doença mental anunciado pela OMS já vinha sendo detectado por estudos feitos no Brasil.
Pesquisa feita pela Unifesp em Brasília, São Paulo e Porto Alegre, em 91, mostrou que 20% da população adulta apresentava algum transtorno mental ao longo daquele ano. Outro dado: 10% da população adulta, no mínimo, consome algum tipo de psicotrópico -tranquilizante, antidepressivo, hipnótico ou antipsicótico.
Cerca de 90% desses medicamentos é receitado por outro especialista que não o psiquiatra, diz Mari. A constatação está levando especialistas a repensarem o currículo das escolas médicas. Na maioria das vezes, caberá ao clínico geral -ou ao cardiologista- a identificação de um transtorno mental.
Segundo o professor, a doença mental não chamava a atenção porque em termos epidemiológicos de mortalidade não ocupava lugar de destaque. A esquizofrenia, por exemplo, não mata.
O que se constata agora é que, apesar de não matar, os problemas mentais significam um grande impacto econômico e na qualidade de vida das pessoas.
O álcool talvez seja o maior causador dos transtornos. Segundo Mari, 8% da população adulta masculina abusa ou é dependente do álcool. "Nos atestados de óbito não aparecem mortes por alcoolismo, mas ele é responsável por 50% de todas as internações psiquiátricas no país, agrava os problemas de saúde e reduz a longevidade", afirma. "O alcoólatra é um candidato em potencial ao desemprego e as mortes por causas externas."

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