São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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1ª brasileira de proveta "odeia estudar"

DA REPORTAGEM LOCAL

Aluna da 7ª série de um colégio particular em Curitiba, a paranaense Anna Paula Caldeira, 12, primeiro bebê de proveta do Brasil, não acredita na teoria de que as crianças nascidas de fertilização in vitro seriam mais inteligentes.
"Isso não tem nada a ver. Não vou assim tão bem no colégio", disse. Anna afirmou que odeia estudar, embora diga que sua nota média varia entre oito e nove e não se lembre de ter tirado menos do que cinco no boletim.
"Adoro dançar", disse. Ela estuda sapateado há nove anos.
*
Folha - Você conhecia o estudo francês que diz que os bebês de proveta são mais inteligentes?
Anna Paula Caldeira - Nossa! Não tem nada a ver. Eu não vou assim tão bem no colégio. Odeio estudar. Por mim, eu não estudava. Só trabalhava e estava bom. Ou nem trabalhava.
Folha - Você já repetiu de ano?
Anna - Nunca repeti de ano nem fiquei de recuperação. Mas também não vou assim uma maravilha. Nunca fui a primeira da classe e também não pretendo ser. Estudar não é meu forte.
Folha - Qual é o seu forte?
Anna - Adoro dançar. É o que melhor eu sei fazer. Desde os três anos, danço sapateado. Depois, fui fazendo outros tipos de dança. Nunca parei um ano de dançar. Hoje, além do sapateado, faço também street dance (dança de rua).
Folha - Qual a sua nota média?
Anna - Depende da matéria e do mês. Às vezes, oito ou nove.
Folha - Qual foi sua média mais baixa?
Anna - A média mais baixa foi cinco. Em prova, já tirei menos do que cinco, mas não me lembro de ter tido menos do que isso no boletim. Estou na média. Não vou muito bem em matemática. Não gosto da matéria. Adoro ciências. Gosto de aprender, de saber das curiosidades, mas não gosto de estudar.
Folha - Seus amigos que sabem que você foi o primeiro bebê de proveta do Brasil fazem algum tipo gozação ou brincadeira com isso?
Anna - No começo, quando mudei para escola onde estou hoje, as pessoas fizeram algumas perguntas e brincadeiras. A televisão foi lá fazer uma matéria e a história foi se tornando mais popular. Às vezes, tinha gente que me enchia o saco. Até hoje tem gente que me enche o saco. Mas eles sabem que eu não gosto da brincadeira e então não fazem mais. Eles sabem que eu brigo com eles.
Folha - O que eles faziam?
Anna - Eles me chamavam de provetinha. Hoje, eles ameaçam me chamar disso, mas sabem que eu não gosto.
Folha - Por que você não gosta do apelido?
Anna - Não sei explicar o porquê, mas eu não gosto.

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