São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Zás-Trás

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Antes do mau humor que reina nos programas infantis de hoje, nos quais o máximo que se aprende é o que fazer com seu dedo, Márcia Cardeal reinava absoluta na TV brasileira, apresentando o programa "Zás-Trás" ao lado do Tio Molina. Dona de uma voz característica, havia participado de alguns episódios de "O Vigilante Rodoviário" e era a dubladora oficial da Katy de "Papai Sabe Tudo", quando passou a comandar o programa cujo formato em muito se assemelha com os das atuais loiras de plantão.
"Zás-Trás" tinha platéia e participação de crianças. Só que Márcia Cardeal não sacolejava as pernocas em vestidinhos dois números menor para despertar tesão em pré-adolescentes, não se portava como uma retardada mental e não vendia, como suas sucessoras, até a alma em troca de um punhado de dólares.
Ela era a professorinha, a "Girl Next Door", a garota pra casar. Márcia Cardeal não precisava inventar namorados: todos eram apaixonados por ela.
Um dia ela atravessou a platéia em traje de gala e penteado caprichado. Não ia partir num cruzeiro com o dono de uma mina de diamantes ou se casar com um empresário em ascensão. Ia buscar seu diploma de professora. A realidade completava a ficção. Márcia Cardeal era "mesmo" a professorinha de todas as crianças do Brasil.
Quando o "Zás-Trás" saiu do ar, por um desses motivos que a Globo nunca acha necessário explicar, as crianças se tornaram órfãs. Onde estaria Márcia Cardeal?
No seu lugar uma sessão de desenhos qualquer ocuparia o espaço enquanto os gênios não achassem uma outra solução. Vieram então as "sessões desenho", os "Globo cor especial", uma infinidade de "Defensores" e "Lutadores". E nada de Márcia Cardeal. Seu colega de palco, tio Molina, mudou de canal e resistiu mais um tempo. Mas, agora, "Zás-Trás" não era brincadeira, mas sim um grito de guerra de algum herói japonês vindo do espaço.
Márcia Cardeal e "Zás-Trás" não foram pioneiros. Antes existiram o "Clube do Papai Novel" com Homero Silva, a sessão "Zig-Zag", na Record da era católica, o "Pullman Júnior", com Cidinha Campos e o seu grito de guerra "Boa Noite, Zé Fofinho!!!" -que introduzia o famoso boneco inflável com colher de pau na mão da empresa, no primeiro, pelo menos parece, merchandising infantil da TV brasileira-, "Meire Meire Queridinha", com Meire Nogueira, o "Pim Pam Pum" e o "Jardim Encantado" na Tupi.
Mas Márcia Cardeal era Márcia Cardeal. Aliás, mais que Cardeal, ela era "Papa".
As loiras de seios fartos e inteligência parca, como diz Angela Dip, deveriam ter uma ou duas aulas com essa professorinha.

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