São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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"Tenho pavor de voar", diz Fernanda

CRISTINA RIGITANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de quatro anos longe das novelas (a última em que atuou foi "O Mapa da Mina", 93, na Globo), a atriz Fernanda Montenegro, 67, volta para interpretar Zazá, papel-título da trama de Lauro César Muniz.
"É uma faca de dois gumes", diz sobre o novo desafio. "Se der certo, tudo bem. Se der errado, irão me cobrar."
Mas a veterana atriz, que trabalha há "uns 45 anos" em televisão, não teme a responsabilidade. "Tenho medo é de avião", confessa, às vésperas de encarnar, na novela, uma milionária excêntrica que adora voar.
Enquanto ficou fora das novelas, Fernanda Montenegro quase não viu TV. Mas, do pouco a que assistiu, não gostou. Exigente, critica os programas atuais. "São todos iguais."
*
Folha - Por que a senhora resolveu aceitar esse trabalho?
Fernanda Montenegro - Porque achei muito bom o texto de Lauro César Muniz. Também não tem aquela responsabilidade da novela das oito. Já trabalhei com o Jorge Fernando (diretor). Fizemos "Guerra dos Sexos" e "Cambalacho". A gente se entende. Essa equipe é boa, a novela tem ótima infra-estrutura, o elenco é de primeira.
Folha - Há alguns atores jovens em "Zazá". O que a senhora acha do trabalho deles e de todo o elenco da novela?
Fernanda - O grande pecado de Zazá é duvidar do talento de crianças e jovens. Não entro nessa de julgar nada nem ninguém. O elenco é o que me foi apresentado. Quem tem talento trabalha bem de qualquer maneira, seja o elenco que for. E quem tem vocação um dia precisa começar. A TV necessita de caras novas.
Folha - O que a senhora acha da atual programação da TV?
Fernanda - Quase não vejo TV porque não tenho tempo, trabalho muito. É sempre a mesma coisa. Parece que são sempre os mesmos programas, com os mesmos formatos. A programação se repete até dar náusea.
Folha - Zazá é a segunda personagem que a senhora faz que gosta de voar (a primeira foi Charlô, de "Guerra dos Sexos"). A senhora tem medo de avião?
Fernanda - Eu vôo muito, mas tenho pavor de avião. A gente vai sempre lá na asa delta, convidam a gente para voar com eles, mas não dá.
Folha - Como a senhora compôs a personagem?
Fernanda - Pedi licença para criar alguns bordões, sem mudar a estrutura do texto, é claro. Com essa equipe fico à vontade para trabalhar. Acho que Zazá vai interessar ao público infanto-juvenil, pois me inspirei muito nas histórias em quadrinhos.
Folha - Parte da equipe, incluindo o diretor, Jorge Fernando, chama a senhora de dona Fernanda. A senhora gosta desse tratamento formal?
Fernanda - Não gosto, mas alguns me chamam assim. Dentro de umas duas semanas, ninguém mais vai me chamar. Essa formalidade é só no início. Afinal, já tenho uma certa idade, perto de uma menina de 18. Mas daqui a pouco isso muda, pois estamos no mesmo barco e corremos o mesmo perigo.
Folha - A senhora já fez ou pensou em fazer plástica?
Fernanda - Nunca fiz plástica, mas não sou contra. Se um dia eu cismar, até faço uma. Por enquanto estou me aguentando bem com as minhas rugas e meus papos. Não é agradável ver o rosto marcado, o pescoço envelhecido, mas isso faz parte da vida. Por enquanto não me incomoda. No dia que incomodar, talvez não dê mais tempo para mudar. Aqui no Brasil existe a cultura de que a mulher tem de ser muito magra, tem de fazer todas as plásticas, o cabelo tem de ser pintado. Não existe mulher eterna.

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