São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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Ação provoca 'saia justa' entre sócios

OTÁVIO DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A ação popular que levou à suspensão do leilão de privatização da Companhia Vale do Rio Doce não trouxe apenas boas notícias para seu principal autor, o professor de direito administrativo da PUC-SP, Celso Antônio Bandeira de Mello.
Em consequência de sua bem-sucedida ação, o advogado enfrenta uma situação delicada com seus dois sócios de escritório, amigos e companheiros de trabalho de vários décadas.
Um dos sócios de Bandeira de Mello, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), encontra-se entre a cruz e a espada.
Eleito para seu cargo atual com apoio do presidente Fernando Henrique, Temer mantém uma sala no escritório de Bandeira de Mello para a eventualidade de voltar a exercer a profissão de advogado.
Na última sexta-feira, o deputado teve uma conversa com FHC, na qual o presidente demonstrou preocupação em relação à ação popular.
"Sugeri uma aproximação entre o presidente e os autores da ação", disse Temer à Folha. "Como amigo de ambas as partes, me disporia a intermediar o contato, desde que houvesse oportunidade."
"Se o presidente nos convidar, tudo bem", afirma Bandeira de Mello. "Mas não vou lá para voltar atrás, e sim para convencer FHC a não vender a Vale."
Crítico do governo FHC, que, segundo Bandeira de Mello, estaria tentando instaurar no país "uma ditadura de punhos de renda", o advogado disse que evita discutir política com Temer. "Prefiro me encontrar para comer pizza."
"Carta infeliz"
A ação popular, entretanto, causou sério abalo na relação de Bandeira de Mello com seu outro sócio de escritório, Adilson Dallari.
Favorável à privatização da Vale, Dallari publicou uma carta na seção Painel do Leitor da Folha em 1º de maio último qualificando de "chicana (tramóia)" o uso de "expedientes processuais para adiar decisões inevitáveis".
"Quem pratica a chicana é chicanista. O chicanista é a antítese do jurista", escreveu Dallari, que também é irmão de outro autor da ação popular, o professor de direito constitucional da Universidade de São Paulo, Dalmo Dallari.
"Todo mundo entendeu a carta como um ataque direto a mim e aos outros autores da ação", afirmou Bandeira de Mello. Desde a publicação, os dois sócios não se falam mais.
Ontem, Adilson Dallari tentou se retratar: "Fiz uma crítica às pessoas que entraram com ações em série, apenas para tumultuar. Não é o caso de Celso Antônio e dos outros co-autores. Eles elaboraram uma única ação, de inegável fundamento jurídico".

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