São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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Suplicy diz que conversa compromete Maluf

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Eduardo Suplicy (PT) afirmou ontem que ouviu denúncia do empresário Manoel Moreira de envolvimento do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) nas irregularidades com títulos do município de São Paulo.
Moreira se encontrou com Suplicy na sede da Polícia Federal em São Paulo. Ele é dono da Sabra, uma empresa de "factoring" que recebeu alguns milhões de reais do esquema dos títulos em sua conta.
Segundo Suplicy, Moreira afirmou, em conversa não-gravada, que foi o ex-prefeito Maluf quem "inventou o sistema dos precatórios". A conversa não foi um depoimento oficial à CPI ou à PF.
"A idéia nasceu na Prefeitura de São Paulo. Segundo conhecimento que Moreira tinha, sempre que um governo fazia uma operação com título, pagava uma espécie de royalty (comissão) que vinha parar aqui, no centro das coisas, em São Paulo", disse Suplicy.
O senador afirmou que as denúncias reforçaram, para ele, a necessidade de convocar o ex-prefeito Paulo Maluf para depor na CPI. "Ele será convocado", afirmou.
Ainda segundo o senador, o dinheiro obtido com os títulos era gerenciado pelo ex-secretário municipal do Planejamento e da Saúde Roberto Paulo Richter.
Moreira também teria dito que Wagner Ramos possui outra conta corrente no exterior, além da que já foi identificada pela CPI.
Filhos
O senador disse que Moreira decidiu falar depois que foi lembrado que poderia ajudar a "construir um país melhor para seus filhos".
O petista afirmou que a CPI vai investigar as denúncias. "Nós pedimos para ele contar tudo o que sabia, mesmo sem provas."
Questionado por Suplicy sobre o destino final do dinheiro do esquema dos títulos, Moreira teria afirmado que ele ia para o exterior e voltava para o Brasil para pagar gastos de campanha eleitoral.
"O lucro era transformado em dólar por um doleiro. Depois, era enviado para o exterior para outro doleiro. Este devolvia para um terceiro, no Brasil, que transformava o dinheiro em Real e fazia pagamentos para diversas pessoas. Parte dos recursos era destinado ao pagamento de gastos de campanha", afirmou Suplicy.
Moreira teria dito ao senador petista que o dinheiro era usado para pagar "veículos, faixas e santinhos". O dinheiro que voltava ao Brasil seria repassado aos integrantes do esquema, em dinheiro vivo, nas própria corretoras.
A empresa de Moreira costumava negociar com as corretoras Perfil e Negocial, ambas envolvidas no esquema dos títulos.
Segundo Suplicy, o empresário conhecia o esquema porque "centenas de cheques do esquema passavam por sua conta".
A conversa entre Moreira e Suplicy ainda teria envolvido grandes bancos. Segundo o empresário, eles "sabiam que as operações eram casadas, ou seja, amarradas entre o comprador e o tomador".
Ontem, os senadores ouviram ainda José Cássio Costa Bariani, da corretora Ativação, que negociava com títulos públicos. "O depoimento confirmou que as operações eram comandadas pela Split", disse Vilson Kleinubing (PFL-SC).

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