São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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Motim na Casa de Detenção faz 18 reféns

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo 13 de detentos em dívida com outros presos da Casa de Detenção, zona norte de São Paulo, rebelou-se ontem e manteve 18 carcereiros como reféns por seis horas e meia (das 10h às 16h30).
Os rebelados queriam transferência para uma penitenciária de Bauru (interior do Estado).
Depois de negociações, a diretoria da Detenção cedeu e concordou com a transferência. Os presos deixaram o prédio por volta das 16h30, em um carro da prisão. Com eles, seguiram dois reféns, sob ameaça de estiletes.
Quando começou o motim, havia 20 reféns, mas dois foram soltos às 10h30 e 12h30, porque passaram mal. A revolta ocorreu no pavilhão 6, mas os dez presos que iniciaram a rebelião eram dos pavilhões 2, 8 e 9. Somaram-se a eles outros três presos do pavilhão 6.
"Se o preso em dívida faz a rebelião no próprio pavilhão, seus credores não o deixam sair. Por isso, ele domina o pavilhão vizinho para negociar sua saída do presídio", disse Lourival Gomes, coordenador da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo).
Gomes disse estar "surpreso com a facilidade com que os presos de outros pavilhões chegaram ao pavilhão 6. Vamos abrir uma sindicância. Pode ser que algum funcionário tenha faltado com o zelo necessário à função".
Segundo um dos reféns libertados, Cláudio Alves da Silva, 39, a maioria dos presos rebelados é de viciados em drogas que tinham dívidas com fornecedores dentro da Detenção (leia texto abaixo).
À exceção dos três presos que aderiram à revolta, o restante dos 165 detentos do pavilhão 6 mantiveram-se neutros. "Houve colaboração por parte dos presos porque eles estão querendo um bom Dia das Mães", disse Gomes.
"Eles disseram que, se não fizessem o bonde (fossem transferidos), iam zoar (machucar) os funcionários", disse João Antonio, 29, um dos cinco carcereiros que se trancou em uma sala de segurança no quinto andar do pavilhão, quando percebeu o motim.
"Quem fez tudo não foram os caras do (pavilhão) 6. Eram do 8, do 9", disse João, que ficou como refém ontem pela primeira vez, em três anos de Detenção.
Questionado sobre como os presos chegaram ao pavilhão, João Antonio disse que "eles (os rebelados) têm passaporte, têm livre acesso."
Sobre esse assunto, o coordenador da Coesp disse que não iria "entrar no âmbito da questão porque é obrigação dos funcionários impedir esse acesso".
Gomes aproveitou a ocasião para valorizar a decisão do governo de desativar a cadeia. "A Detenção tem muito metal exposto, é uma fábrica de estiletes."

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