São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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BC denuncia evasão e lavagem de dinheiro

Fraude foi detectada em Foz do Iguaçu

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central enviou ao Ministério Público denúncia de evasão de divisas, com fraude fiscal, em Foz do Iguaçu (PR), feitas por meio de operações fictícias. O objetivo era também "lavar dinheiro" sem origem declarada.
Em três meses, foi movimentado US$ 1,4 bilhão -uma média de US$ 28 milhões/dia, ou o triplo da estimativa de fluxo diário de operações comerciais com o Paraguai.
O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, requisitou à Polícia Federal instauração de inquérito policial no município de Foz de Iguaçu. Três procuradores da República do Paraná foram nomeados para apurar a responsabilidade penal dos envolvidos.
As operações simulavam entrada de reais provenientes do comércio de Ciudad del Leste (Paraguai), segundo documento do BC.
A fiscalização do BC detectou que o número de carros-fortes que descarregavam reais na tesouraria do Banco do Brasil "era muitas vezes superior aos que cruzavam a Ponte da Amizade (na divisa com o Paraguai)". O Banco do Brasil era autorizado pelo BC a resolver o fluxo de reais em Foz do Iguaçu.
Segundo o documento do BC, isso evidencia que os reais não vinham do Paraguai, mas sim do Brasil. Para fazer essas operações, segundo apurou a Folha, foi necessária a ajuda de funcionários dos bancos que estão autorizados a cuidar do fluxo de reais em Foz do Iguaçu -Banco do Brasil e mais três instituições.
A assessoria de imprensa do BB informou ontem que não foi comunicada pelo BC da realização de auditoria. Assim que for informado, o BB tomará as medidas cabíveis, informou a assessoria.
Os auditores constataram que os valores eram acondicionados em maços com tarjas do Banco do Brasil, comprovando que eram sacados da própria tesouraria e redepositados como se fossem provenientes de Ciudad del Leste.
Os comerciantes do Paraguai depositavam os reais em bancos de seu país e os valores retornavam ao Brasil para troca da moeda.
Os reais chegavam ao Brasil em carros-fortes e, conforme uma regra adotada pelo BC para os comerciantes da região, têm que ser depositadas em uma conta CC-5 de uma instituição financeira -no caso o Banco do Brasil e mais três bancos autorizados.
O BC descobriu que 25 pessoas físicas -que receberam depósitos de vários pontos do país- tiravam dinheiro de suas contas correntes e colocavam nas contas de CC-5 dos bancos paraguaios existentes nas agências de instituições brasileiras.
Essa era uma forma de simular a entrada de dinheiro no país por meio de CC-5. As instituições financeiras têm o poder de converter os reais em dólares e remeter para qualquer outro país, conforme a determinação do titular. As 25 pessoas serviram de "laranjas" para que empresas ou outras pessoas levassem recursos para fora do Brasil ou "lavassem" dinheiro sem procedência conhecida.

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