São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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Aumenta o teor de bobagens

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Luiz Carlos Mendonça de Barros, o presidente do BNDES, resolveu dar inestimável contribuição para o baixo nível do debate público, em sua entrevista à Folha, publicada domingo.
Começa por desqualificar a oposição à venda da Vale como "pressão de um grupo que perdeu as eleições presidenciais de 1994". Bobagem.
O grupo que se opõe politicamente à privatização da empresa é coerente. Fez a mesma coisa em outras privatizações, antes, durante e depois das eleições presidenciais de 94.
O presidente do BNDES tem todo o direito de não gostar desse tipo de posição política. Só não tem o direito de determinar que posições deve adotar cada um dos atores políticos.
A idéia de uma suposta revanche da derrota de 94 é, primeiro, pobre e, segundo, cópia. Cópia de idêntica reação de parte do então presidente Fernando Collor, ao acusar os defensores de seu impeachment de buscarem um "terceiro turno", depois de derrotados nos dois primeiros.
Collor, pelo menos, estava perto da verdade. Realmente uma parte dos que batalharam pelo impeachment queria destroná-lo. E estava em seu pleno direito, até porque, se o processo que conduziu Collor ao Palácio do Planalto foi razoavelmente legítimo, o próprio presidente era uma fraude.
Já os que se opõem à venda da Vale não querem derrubar FHC. A menos que, no governo ou na oposição, haja algum lunático imaginando que a eventual não-privatização da Vale levará à renúncia de FHC, ao impedimento de seu vice e à convocação de novas eleições, restritas a Lula e Enéas, o segundo e terceiro colocados de 1994.
Fosse apenas uma manifestação pessoal, só comprometeria o seu autor. Mas o grave é que parece revelar uma disposição do conjunto do governo de tratar a oposição, toda ela, com o desprezo que os que se acreditam emissários de Deus na Terra dedicam aos ímpios.

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