São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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TRABALHADORES INFANTIS

O trabalho infantil é uma das faces mais perversas da miséria. Apesar de proibido pela Constituição, ele ocorre não só na agricultura familiar, mas também em setores integrados à indústria e à exportação.
Caderno desta Folha publicado em 1º de Maio último mostrou o trabalho de menores de 14 anos na área canavieira de Pernambuco, na produção baiana do sisal e mesmo em mineradora do grupo Paranapanema. Segundo dados do IBGE, 3,8 milhões de crianças com idade de 5 a 14 anos trabalham no Brasil.
Pesquisa do Datafolha realizada em São Paulo indica que parcela majoritária da população repudia o trabalho infantil. Há compreensível tolerância, entretanto, quando a questão é vista como o único recurso de famílias carentes para enfrentar a miséria. E aí está a grande dificuldade.
A proibição do trabalho infantil será pouco eficaz enquanto não houver outro meio de sustento para as respectivas famílias. Nesse sentido, é auspicioso que se tenham iniciado alguns programas que vinculam o auxílio econômico do poder público à frequência escolar. Brasília, Mato Grosso do Sul e a União, entre outros, têm em andamento projetos desse tipo. Há também no setor privado iniciativas de apoio à criança, como a da Fundação Abrinq.
A pesquisa Datafolha confirma que o trabalho precoce prejudica o aproveitamento escolar. Verificou-se maior repetência nas regiões onde é mais frequente o trabalho de menores de 14 anos. Ademais, 32% das crianças que abandonaram a escola afirmaram que o motivo foi a necessidade de trabalhar, mais 8% deram como razão a dificuldade para estudar e também trabalhar.
Privar uma criança da educação é roubar-lhe as chances de ascensão social. O trabalho infantil resulta ainda mais intolerável quando se contrapõe à formação escolar. Erradicá-lo é um desafio de grandes proporções, para o qual o Brasil lamentavelmente ainda não dedica as energias necessárias.

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