São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Tráfico emprega 50 mil em São Paulo

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O tráfico de drogas ilegais emprega mais pessoas na cidade de São Paulo que a indústria automobilística.
Um levantamento feito pela diretoria do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos, da Polícia Civil) indica que, apenas na cidade de São Paulo, há 50 mil pessoas trabalhando diretamente com o narcotráfico.
Esse número não inclui apenas os traficantes, mas todas as pessoas relacionadas com a atividade ilegal do tráfico, como seguranças, estoquistas, olheiros e "aviões" (entregadores de drogas).
O delegado Godofredo Bittencourt Filho, da Divisão de Inteligência e Apoio Policial (Diap), afirma que o Denarc tem cadastrados 5.000 pontos de venda de entorpecente na cidade.
Ele estima que, em média, cada ponto emprega dez pessoas. Assim, chegou ao número de 50 mil pessoas envolvidas com o tráfico.
É mais que a população de 539 dos 645 municípios de São Paulo, segundo dados do IBGE.
Atacadistas
Para abastecer esse mercado das drogas, segundo o Denarc, há em São Paulo pelo menos 80 grandes atacadistas ligados a cartéis internacionais (leia texto na página 3).
Segundo Bittencourt Filho, o número de envolvidos com o tráfico praticamente dobrou nos últimos cinco anos, devido à chegada do crack a São Paulo.
"Muitas pessoas viciadas em crack começaram a se envolver com traficantes para sustentar o vício. Esse é um fenômeno do crack, as outras drogas demoram mais a viciar", afirmou Bittencourt Filho.
Esses viciados entram no mercado das drogas de duas maneiras. A mais comum é trabalhando para traficantes, como olheiros, seguranças e aviões, recebendo salários em espécie.
A outra maneira é se tornando um pequeno traficante, pegando algumas pedras de crack por consignação, vendendo por um preço maior e "fumando a diferença".
Na avaliação do Denarc, pelo menos 150 mil pessoas usam crack cotidianamente na cidade de São Paulo. Só o tráfico dessa droga movimentaria cerca de R$ 15 milhões por mês na cidade.
Somando a venda de todas as drogas, o tráfico movimentaria pelo menos R$ 30 milhões a cada mês na cidade de São Paulo.
Estudo
A estimativa do Denarc é compartilhada pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP).
O professor Guaracy Mingardi fez um estudo que aponta os mesmos 5.000 pontos de venda de drogas em São Paulo.
O número de pessoas envolvidas com o tráfico, segundo Mingardi, seria, no mínimo, de 50 mil.
Para Mingardi, a maioria desses funcionários é autônoma. "Eles não possuem vínculo empregatício tradicional. Uns prestam serviço em troca de droga. Outros compram droga de alguém e passam adiante", teoriza Mingardi.

LEIA MAIS sobre o tráfico de drogas nas páginas 2 e 3

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