São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Grande SP tem 80 atacadistas de drogas

OTAVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Um relatório sigiloso feito pelo Denarc de São Paulo e enviado à SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos, ligada à Presidência da República) aponta a existência de 80 quadrilhas de atacadistas de drogas na Grande São Paulo.
Dessas quadrilhas, a polícia paulista admite não ter controle nem meios para combater três delas.
O relatório informa à SAE, órgão que sucedeu o SNI (Serviço Nacional de Informações), a área de atuação das quadrilhas, seu poder bélico e as ações feitas para combatê-las.
O Denarc também pede informações ao órgão sobre técnicas que podem ser usadas contra quadrilhas de traficantes.
O relatório ainda contém os organogramas das três principais quadrilhas de traficantes, com nomes dos maiores envolvidos e todas as suas ramificações.
Fortaleza
A outra quadrilha, a gangue do Marcelo, atua na região da Vila Bonsucesso, em Guarulhos (leste da Grande São Paulo), mas também teria ramificações nas zonas leste e norte da capital.
Segundo o delegado Godofredo Bittencourt Filho, do Diap (Divisão de Inteligência e Apoio Policial), a gangue da rua Muniz de Souza é a principal responsável pelo tráfico de drogas na região central e na zona oeste de São Paulo.
Bittencourt Filho relata que o chefe do tráfico no local seria Laércio de Souza, preso em fevereiro. Mas, mesmo após sua prisão, o tráfico continuou organizado e atuante.
Muro com graxa
Segundo a polícia, a suposta quadrilha ocupa um terreno com saídas para cinco ruas. A entrada principal é por uma vila de casas antigas, hoje transformada em cortiço.
A fachada é protegida por um portão blindado, fechado a partir das 21h. O tráfico, segundo a polícia, é feito por uma pequena janela no portão.
Segundo moradores, há três outros portões de ferro no corredor da vila.
"Os traficantes colocam graxa no muro para evitar que a polícia os escale. Quando invadimos o casarão, tivemos que derrubar o portão, mas no dia seguinte eles colocaram outro", afirma o delegado.
Fotos do casarão foram anexadas ao relatório e enviadas à SAE.
As outras duas quadrilhas, na opinião de Bittencourt Filho, conseguem grande poder e apoio popular devido às benfeitorias feitas na favela.
Marcelo e Bill, os supostos líderes do tráfico, teriam construído quadras esportivas, salões de baile e postos médicos nas favelas onde atuam.
Eles também forneceriam remédios, livros e ambulâncias à população.
"Além de possuírem forte armamento, essas duas quadrilhas contam com o apoio e a proteção dos moradores, dificultando a ação da polícia", afirma Bittencourt Filho.

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