São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Estudantes pegam carona em sem-terra

DA REPORTAGEM LOCAL

O sucesso da marcha dos sem-terra a Brasília atraiu estudantes para suas mobilizações, operando uma espécie de inversão de papéis dos anos 60, quando os estudantes estavam na linha de frente.
"Achávamos que tínhamos o conhecimento da verdade e devíamos levá-lo ao operariado. Hoje, na falta de um movimento social que tenha projeto definido, os estudantes vão atrás dos sem-terra", diz Paulo de Tarso Venceslau.
Para Kerison Lopes, presidente da Ubes, a juventude tem uma atração muito grande pelo que possa significar mudança. "O movimento sem-terra representa isso hoje. Os estudantes ficam comovidos com a luta deles e querem fazer alguma coisa", diz.
O sem-terra Daniel da Silva, 24, experimentou essa popularidade quando visitava escolas no trajeto da marcha.
"A princípio, eles não sabiam quem era a gente e o que fazíamos, mas quando íamos embora, deixávamos até autógrafos", conta. "Com isso, percebemos que as escolas não têm informação."
Os presidentes da UNE e da Ubes estimam em cerca de 5.000 o número de estudantes que compareceu à chegada da marcha dos sem-terra a Brasília.
O tesoureiro da UNE, Olavo Nolleto, acha que o mérito dos sem-terra foi fazer com que a reforma agrária fosse um tema de interesse de toda a sociedade.
"Quando eles conseguiram fazer isso, viraram um modelo importante para nós", diz.
O ex-guerrilheiro do MR-8 Daniel Aarão Reis, também membro do grupo que sequestrou o embaixador norte-americano, acha natural a adesão dos estudantes aos sem-terra. "É o único movimento hoje que tem uma dinâmica e um calendário definidos", diz.
Para Reis, o fato de os estudantes terem sido protagonistas do movimento de oposição ao regime nos anos 60 aconteceu por falta de alternativa.
"Os estudantes, como hoje, não tinham condições de liderar os movimentos de esquerda. Nós só nos destacamos porque todos os outros movimentos foram decapitados", avalia.
"Éramos filhos da classe média e por isso não fomos tolhidos logo no começo do regime", afirma.

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