São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Brasileiro arrisca mais na hora de investir

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O brasileiro está mais disposto a correr riscos quando decide investir no mercado financeiro.
Há seis meses, de cada R$ 100 aplicados nos vários fundos, apenas R$ 4,50 estavam abrigados nos fundos de ações e carteira livre. Fechadas as contas de abril, viu-se que a participação já alcança R$ 8,30 do patrimônio líquido total.
Ainda é pouco, mas o ritmo de crescimento tem surpreendido até técnicos do Banco Central.
Administradores dos fundos mútuos de investimento são unânimes em apontar certa mudança de atitude dos investidores.
Heitor Hortêncio Júnior, diretor da Corretora Síntese, diz que desde o segundo semestre de 96 vem notando maior disposição dos investidores para o risco.
Ele relaciona essa tendência à queda das taxas de juros nominais.
"Antes do Real, a maior preocupação do investidor em fundos era se proteger da inflação. Ele não comparava rentabilidade. Agora, quando percebe que não precisa correr no dia-a-dia contra a inflação e as taxas nominais são mais baixas, até 0,10 ponto percentual faz diferença", afirma.
Na renda fixa típica, explica Hortêncio, o parâmetro de rentabilidade é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
Nos fundos híbridos, é possível obter 130% ou 150% do CDI durante quatro, seis meses, como volatividade baixíssima, diz ele.
O crescimento dos fundos, especialmente os carteira livre, não foi, porém, motivado apenas pela maior disposição das pessoas físicas em correr algum risco.
Luís Stuhlberger, diretor da Hedging-Griffo Corretora, considera que a queda dos juros nominais de fato empurrou muitos investidores para a renda variável, num processo auto-alimentado pela própria alta da Bolsa.
Neste ano, o Índice Bovespa acumula valorização de 49%, enquanto a renda fixa não passa de 7%.
"Você encontra um amigo que aplica em renda variável, o gerente também estimula. É um processo gradual", diz Stuhlberger.
Mas ele aponta outro fator para o crescimento acelerado do carteira livre: investidores institucionais que operavam diretamente nas Bolsas de Valores formaram fundos exclusivos para contornar o custo da CPMF.
Numa troca de posição de papéis, por exemplo, de Telebrás por Petrobrás, a movimentação financeira de um investidor comum é taxada em 0,20%. A mesma operação feita por um fundo não tem esse ônus porque suas contas correntes são isentas da CPMF.
Eduardo Santalucia, gerente de investimentos do Sudameris, arrisca que essa mudança na estratégia operacional dos investidores institucionais (entidades de previdência privada fechada e aberta, consórcios, seguradoras etc.) é a principal responsável pela explosão dos fundos carteira livre.

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