São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Metalúrgico espera por cirurgia sindical

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

Termina na próxima semana o 2º Congresso dos Metalúrgicos do ABC, que traz, em suas conclusões finais, propostas para uma mudança completa no funcionamento do movimento sindical.
Com o tema "Ano 2000: Que sindicato queremos?", foram discutidos no congresso os modelos de organização e sustentação financeira do sindicato.
"Estamos nos preparando para uma cirurgia que o Congresso Nacional fará na legislação trabalhista, trazendo a liberdade sindical", disse Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT, Central Única dos Trabalhadores).
As principais medidas aprovadas apontam para a criação de um modelo "orgânico" de sindicato, vinculado à central sindical e com ramificações dentro das fábricas de sua base de atuação.
Os metalúrgicos querem o fim da unicidade sindical (uma entidade por base territorial) e das contribuições financeiras compulsórias, previstos em lei.
Defendem ainda a redução progressiva das horas extras e posterior eliminação por completo, como forma de gerar novos empregos.
Comitês
Uma das mais polêmicas mudanças aprovadas é a criação dos comitês sindicais de base, que seriam núcleos do sindicato organizados dentro das empresas.
"Os comitês de base são a segunda etapa na luta pela representação interna nas empresas", disse Marinho.
A primeira, também iniciada no ABC, foi a criação, nos anos 80, das comissões de fábrica, órgãos internos de representação dos trabalhadores.
Apesar de politicamente afinadas com o sindicato, as comissões têm autonomia administrativa. Isso pode se tornar um risco caso o Congresso Nacional aprove o fim da unicidade sindical.
"Com o fim da unicidade, outras centrais sindicais poderão entrar nas fábricas do ABC. Devemos estar preparados para esse momento", disse Marinho.
Os comitês sindicais de base estariam organicamente ligados ao sindicato, com integrantes que teriam status de diretores. Seria a garantia de manutenção do controle e influência sobre a base de trabalhadores.
"As comissões de fábrica dependem de negociação com as empresas, que muitas vezes não cedem. Já os comitês de base podem ser implantados mais agilmente, porque a empresa não pode impedir a atuação do sindicato", afirmou.
Apesar de aprovada no ABC, a criação dos comitês deverá provocar disputa no congresso da CUT, em agosto, já que correntes de esquerda têm críticas à proposta.
"Esses comitês engessam a atuação dentro da fábrica. Os trabalhadores das fábricas devem ter autonomia em relação à cúpula do sindicato e não serem subordinados", afirmou Paulo Coutinho, presidente da CUT capixaba.
Coutinho, da Articulação de Esquerda, pretende disputar, no congresso, a presidência da central, provavelmente com Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, atual presidente. Vicentinho e Marinho são da Articulação Sindical, tendência de centro.
As pretensões de Coutinho, no entanto, esbarram na intenção do grupo que hoje dirige a CUT de manter Vicentinho na presidência.
Dirigentes como o tesoureiro Remígio Todeschini acreditam que Vicentinho é o nome capaz de manter a coesão na CUT e comandar a central durante o processo de mudanças que o sindicalismo deve atravessar nos próximos anos.

Colaborou a Reportagem Local

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