São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CPI na CBF!

JUCA KFOURI

A arbitragem sempre foi, ao lado do passe e da chamada Justiça esportiva, um forte instrumento de poder da cartolagem brasileira.
Por temer apitos bandidos, os clubes aceitam calados as mais diversas formas de chantagem. O escândalo da CBF, no entanto, tem a arbitragem apenas como pano de fundo. Na verdade, trata-se de mais um escândalo movido simplesmente a dinheiro.
Como outros maiores e menores que explodiram na CBF nos últimos anos.
Quem não se lembra, por exemplo, dos jogadores da seleção de 1990, usando camisas de treino pelo avesso ou tapando a marca do patrocinador da CBF na foto oficial, porque não receberam o direito de arena equivalente ao valor real do contrato feito entre a entidade e a empresa?
A caixa preta da CBF precisa ser aberta e é arrematada asneira o argumento de que por se tratar de uma entidade privada esta não deve satisfação a ninguém.
Em primeiro lugar, simplesmente pela obviedade de que empresas privadas são obrigadas a atuar dentro da lei.
Em segundo, porque a CBF não tem um dono, não pertence ao seu presidente, por mais que pareça uma capitania hereditária. Os negócios de um presidente da CBF não podem se confundir com os negócios da confederação.
E a CBF trata da maior paixão do brasileiro, razão pela qual se justifica não só o olhar atento do governo federal como do Congresso.
A idéia de fazer-se uma CPI na CBF -que sempre corre o risco de acabar em nada e, no caso, em vir a ser dominada pelo nobre deputado Eurico Miranda, que a usaria apenas para barganhar- se justifica na medida em que o futebol é um assunto de interesse nacional. E que envolve até a loteria esportiva federal.
A comissão de deputados que acuou Ricardo Teixeira na sexta-feira está sim cumprindo um dever perante à opinião pública, porque só aos cartolas gananciosos interessa manter a idéia de que o futebol é uma questão menor e de âmbito privado.
E que ninguém se iluda com a aparente quebra da unidade do espírito corporativista que predomina também entre os cartolas. Dessa divisão dificilmente sairá alguma revelação fundamental, mesmo que o adágio ensine que "em briga de comadres descobrem-se as verdades". No caso, mais do que comadres, estamos diante de velhas raposas que saberão preservar seus melhores segredos na luta pelo poder.

Texto Anterior: Gestação; Parto; Amamentação
Próximo Texto: Dilatador nasal conquista jogadores do Paulista-97
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.