São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Carta de crédito não garante compra

OSCAR RÖCKER NETTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho de comprar a casa própria por meio dos programas de financiamento habitacional Carta de Crédito da Caixa Econômica Federal (CEF) será frustrado para a maioria dos inscritos.
Muitas pessoas que estão com a carta não conseguem encontrar o imóvel e fechar o negócio. Na prática, elas têm o financiamento e só dependem de achar uma moradia que se enquadre no programa.
Mas não encontram, e o prazo para o fechamento do negócio acaba em 30 de junho.
Os números divulgados pela CEF revelam que há muito recurso ainda não aproveitado.
Inscreveram-se no ProCred (programa para trabalhadores com renda mensal de até 12 salários mínimos) 928.928 pessoas. Até 23 de abril, foram fechados apenas 46.725 contratos de compra. A média de cada financiamento é de R$ 10 mil.
Já o Carta CEF (voltado para quem tem renda superior a 12 salários mínimos mensais) teve 115.917 inscritos, com apenas 1.937 contratos fechados. O financiamento médio é de R$ 30 mil.
Os inscritos nesse modelo serão chamados até o final do ano.
A assessoria da CEF diz que o número de contratos aumentou em ritmo acelerado, mas não divulgou de quanto foi o aumento.
Pouca oferta
Um dos problemas é que não há imóveis suficientes no mercado na faixa de preço das cartas.
"Com R$ 30 mil não se compra imóvel nem no fim da periferia", diz Elisabete Lessa, 37, dona da imobiliária Selo, que atua na zona norte de São Paulo.
Mesmo usando o saldo do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), as pessoas têm dificuldade de completar o valor do imóvel com recursos próprios.
Para Celso Petrucci, 43, diretor do Secovi-SP (sindicato de imobiliárias e construtoras), a saída seria o aumento do valor financiado.
"Ampliando o comprometimento de renda do mutuário para 30%, a CEF poderia financiar até R$ 48 mil, o que certamente aumentaria o espectro de imóveis disponíveis."
Atualmente, a CEF permite o comprometimento de até 25% da renda do mutuário.
Além disso, muitos proprietários não aceitam a carta porque dizem que a CEF demora muito (até 90 dias) para repassar o dinheiro.
Mudanças
Desde o início do programa, em 1995, a CEF já promoveu uma série de adaptações, com o objetivo de agilizar os negócios (veja quadro ao lado). Mas os resultados ainda não produziram efeito massificado para os inscritos.
Segundo Elaine Mascarenhas, 36, gerente de mercado da CEF em São Paulo, quem não conseguir comprar o imóvel até o dia 30 de junho terá nova chance no segundo semestre -quando os programas deverão ser reabertos.
Sobre a falta de oferta de imóveis, ela diz que um dos objetivos do programa foi justamente estimular a construção de imóveis para a menor renda.

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