São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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O tempo e o tempo

ÉLBIO FERNANDES MERA

Que nos perdoe Érico Veríssimo, mas o vento não entra mais no título das pessoas que, certamente, têm tudo para ingressar no próximo milênio com uma filosofia diferente: valorizar o tempo. Ou seja, premiar os momentos de vida (lazer, família, amigos).
Tal objetivo está influenciando decisivamente todos os tipos de atividades, com especial repercussão no sistema econômico, posto que até os meios de produção estão sendo paulatinamente reposicionados (terceirização, trabalho em casa, escritórios virtuais).
Mudam, também, hábitos de consumo, já que as facilidades passarão a ser muito mais privilegiadas que os modismos.
Nessas circunstâncias, também mudam as práticas do mercado imobiliário. O sucesso dos empreendimentos dependerá do grau de equipamentos ofertados para o atendimento das mais variadas necessidades dos clientes. Não é por acaso que acessórios, como "home-theaters", acabam decidindo a venda ou não de um imóvel.
O público ainda exigirá muito mais. Não admitirá, por exemplo, perder tempo no trânsito. E caberá aos profissionais imobiliários proporcionar as soluções desejadas.
Para isso, identificamos procedimentos que o mercado já vem adotando. Como as pessoas premiam o tempo, procuram resolver suas necessidades em locais próximos. Assim, a construção de "edge cities" (cidades de contorno) passa a ser um imperativo.
Mas, como conseguir, nas metrópoles, áreas livres para a formação de novas comunidades? A saída, então, passa pela reorganização de bairros perto da área central, via renovação urbana.
Em São Paulo, existem bairros que podem passar por tal revolução, como Pari, Bom Retiro, a zona cerealista (região central) e outros que, inclusive, já têm alguma infra-estrutura instalada.
Cabe apenas adequá-las à nova realidade, transformando-as em regiões com um "mix" de serviços e outros complexos, como habitação, parques, empresas etc., de forma que tudo esteja acontecendo, concentrada e simultaneamente, num só lugar.
Basta analisar o que ocorreu com a região do ABC. Em São Bernardo do Campo, por exemplo, pode-se afirmar, empiricamente, que pelo menos 50% da população não tem a menor necessidade de vir a São Paulo para resolver problemas. Tudo o que se precisa está lá.
Acrescente-se ainda que já existe um instrumental jurídico capaz de renovar regiões, como é o caso das Operações Urbanas praticadas na capital. E uma das maiores em vias de realização é a do Centro Velho da cidade, que tem o condão de devolver à área a vida que um dia já teve. E isso não só em termos de trabalho, mas de lazer, de convivência, de habitabilidade.
Sem dúvida alguma, o maior desafio a ser vencido por todos os responsáveis pelo progresso econômico e humano das cidades é o fator tempo.
Poupar tempo, oferecer tempo para as pessoas. Para o mercado e para os responsáveis pelo desenvolvimento urbano, a construção de comunidades se apresenta como o único instrumento capaz de satisfazer essas necessidades.

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