São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Futebol e xadrez

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Futebol e xadrez
O mundo do esporte está ficando de pernas para o ar. Desde as pequenas coisas até as grandes jogadas. Há duas semanas fui ao Pacaembu assistir o meu querido Corinthians. Comprei as entradas com bastante antecedência.
Levei três netos -garotos de bom senso, corintianos, é claro. Qual não foi a minha surpresa ao ver que os nossos lugares estavam ocupados!
Não houve jeito de reavê-los. Como estava tudo lotado, voltei para casa sem poder torcer (pessoalmente) pelo Coringão. Na semana seguinte, o mesmo ocorreu em Campinas, quando o valente timão jogou com o Guarani.
A confusão foi geral. Teve gente que, além de não entrar, acabou apanhando do lado de fora dos portões. Isso não pode continuar. Futebol é coisa séria.
Explodiu agora o escândalo dos juízes. As reportagens mostraram que eles estavam sendo teleguiados por cartolas metidos com a política e com a CBF. Por meio de manobras ardilosas, os clubes entregavam gordas propinas a espertalhões que compravam os juízes e embolsavam uma parte do dinheiro.
Um deles, deslavadamente, perguntou: "Por que eu, cidadão brasileiro, não vou ajudar os meus amigos?".
Fico me perguntando: se tivesse ficado para ver o Corinthians, será que eu teria assistido uma partida leal? Ou seria um jogo de cartas marcadas?
A mão invisível parece estar em toda parte. Talvez seja isso que levou Garry Kasparov, campeão mundial de xadrez, a disputar um torneio contra um computador. Quem ganhar, levará US$ 700 mil.
As máquinas são limpas do ponto de vista ético e moral. Os homens não conseguiram (ainda) ensiná-las a mentir e ser maldosas. Mesmo assim, o jogo entre Kasparov e o computador Deep Blue está empatado. Continua hoje.
Na última quarta-feira, o campeão pediu um tempo, pois desconfiou que os "repentes de inteligência humana" do Deep Blue estavam cheirando a sinais de "inside information". Kasparov quis pensar um pouco mais. Será que até os computadores estão sendo corrompidos?
Tem gente cogitando de uma "CPI do Apito" para apurar os desmandos do futebol brasileiro. Convém ir com calma. Estamos precisando de solução e não de enrolação.
Afinal, a maioria das CPIs só serviu para legalizar o roubo. Os que perderam o mandato continuam em liberdade. Uns gozam a vida no exterior. Outros continuam esnobando aqui dentro mesmo, nas nossas barbas.
Nenhum dos piratas devolveu um único centavo do que pilhou. E muito já se preparam para se candidatar novamente.
Por isso, devagar com o andor. Repetindo, futebol é coisa muito séria neste país. É assunto de exportação. É o que projetou o Brasil no resto do mundo. Futebol é a paixão nacional. Não é assunto para CPI.

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