São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Uma cópia, por favor?

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chacrinha já dizia com sabedoria: na TV nada se cria, tudo se copia. Usar velhas fórmulas, copiar o que deu certo, variando aqui e ali, ou descaradamente imitar é o verdadeiro "padrão de qualidade" da nossa TV hoje em dia. Senão vejamos.
No passado, os amantes da música sertaneja tinham Alvarenga e Ranchinho, Tonico e Tinoco, Inezita Barroso. Hoje, algumas guitarras a mais e com uma influência nitidamente norte-americana, temos as inúmeras duplas e a autoproclamada rainha Sula Miranda. Ou seja, misturaram Mazzaroppi com Roy Rogers... e todo mundo engole.
Ofélia subiu a serra para fazer seu programa ao vivo. Ainda está no ar -ela e suas centenas de concorrentes em todos os canais de TV. Não há mais panela para tanta receita. Hebe então nem se fala. Todo mundo quer ser Hebe... até eu!!!
Ibrahim Sued sentava na ponta da mesa e, gaguejando, sacudia a imaginação da "Plebe Rude" falando das "Cocadinhas" e das "Panteras" que saracoteavam seus Courreges nas noites do falecido café society carioca. Mas olho vivo que cavalo não desce escada: em seu lugar, Amaury Júnior, o engraçadíssimo Otávio Mesquita e uma meia dúzia de outros menos cotados mostram o entra-e-sai de jóias falsas e as últimas novidades dos modernos figurinistas de gosto duvidoso nas festas da sociedade paulista.
Até as velhas "Cocadinhas" do Ibrahim agora têm seu próprio alto-falante em Luciano Huck, que também faz um programa igual ao de Serginho Groisman. Este um original.
Um batalhão de gente suada saltita atrás do Faustão. Antes delas, haviam as Chacretes, as Boletes, as Silvetes, as Telemoças, a ala jovem de Paquitas, Marotos, Angélicos e, se é que alguém lembra, as "Frutinhas", garotas de pouca roupa que divertiam (?) os marmanjos do SBT. Até o austero Flavio Cavalcanti não resistiu à tentação e juntou um punhado de rapazes e garotas de saias curta e perninhas grossas nos seus programas de quinta-feira, com a desculpa de promover uma gincana.
"Sai de Baixo", como já disse, é uma cópia menos engraçada da "Família Trapo". Isso quando os autores não usam piadas tiradas do seriado "The Nanny". Tom Cavalcanti não é Golias. Que fez uma escolinha igual à do Chico Anysio. Que lançou Tom Cavalcanti.
Em pleno centenário do nascimento de Pixinguinha e aos 60 anos da morte de Noel Rosa, ninguém mais se preocupa em saber o nome dos cantores de samba, pois a linha de frente dos grupos são as mulheres de bumbum gordinho que trocaram nosso ritmo mais famoso por alguma mistura de Pelourinho com Praça Onze, ao qual deram nomes de "Dança da Garrafa", "Dança do Cachorro", "Dança da Cordinha" etc.
Mas se você pensa que Carla Perez é uma original, engana-se: o que ela faz com a bunda, Genival Lacerda já fazia com a barriga.

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