São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Agendas "nova" e "velha" contrapõem EUA e Brasil

CLÓVIS ROSSI; DENISE CHRISPIM MARIN
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A BELO HORIZONTE

À margem dos detalhes técnicos, o confronto Mercosul/EUA em torno da Alca é uma batalha em torno de agendas.
Os EUA querem introduzir temas chamados "novos" nas negociações comerciais internacionais, ao passo que o Brasil prefere, antes, limpar da agenda os temas "velhos", tradicionais na OMC.
Os temas novos são serviços (financeiros, seguros-saúde etc.), compras governamentais (concorrências pelas quais o governo contrata desde a construção de estradas até serviços), propriedade intelectual (respeito ao "copyright") e investimentos (normas mais liberais para o externo).
Já o Brasil prefere tratar das barreiras a seus produtos agrícolas e têxteis e dos instrumentos de proteção unilaterais dos EUA.
É simples também identificar as razões de fundo por trás de cada agenda: os EUA são virtualmente imbatíveis nessas áreas novas e querem o máximo de acesso para elas nos mercados latinos.
O Brasil se considera competitivo, por exemplo, em agricultura, mas tem suas exportações travadas por barreiras protecionistas.
Como se fosse pouco, há um novo elemento de divergência, que não aparece claramente no esboço de documento final.
Trata-se do "fast track" (via rápida). É uma autorização do Congresso norte-americano para que o Executivo negocie acordos comerciais que, depois, serão aprovados ou rejeitados na íntegra, sem possibilidade de emendas.
O governo brasileiro acha que, sem o "fast track", iniciar qualquer negociação com os EUA é correr o risco de ver eventuais acordos destroçados depois.
Os sindicatos
Fora do conflito de interesses Brasil/EUA, há uma pendência entre o mundo sindical e governos como o mexicano.
O sindicalismo conseguiu ontem uma entrevista com o chanceler brasileiro Luiz Felipe Lampreia, mas não conseguiu, até agora, que o documento dos ministros abrisse espaço para que participem das negociações.
Um dos parágrafos, o 14, tem duas redações divergentes. Numa, os ministros dizem apoiar "a criação de um Foro Sindical das Américas", similar ao que já existe para os empresários e que participa indiretamente das discussões.
O outro limita-se a mencionar a necessidade de "diálogo" com a sociedade civil. (CR e DCM)

Texto Anterior: 68% dos programas brasileiros são "piratas", mostra pesquisa
Próximo Texto: Dialeto dos negociadores é curioso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.