São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 1997
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Ah, eu não sou leso

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Como previsto, o governo já veio com a conversa mole de sempre ao comentar o esquema da compra de votos na reeleição.
Há frases padronizadas para essas ocasiões. Eis as principais:
"O governo federal não está envolvido nem nunca estaria";
"O caso precisa ser mais bem investigado, pois a denúncia é grave";
"Olha, esse Ronivon Santiago não é muito confiável. É lá do Acre";
"Tudo está tranquilo no Planalto".
Os autores dessas frases são ministros e assessores de alta patente tucana. Querem que a nação acredite que, se houve algum tipo de corrupção na reeleição, eles não sabiam de nada.
Como esta coluna tem boa memória, guardou para hoje uma declaração, ainda inédita, do ex-líder dos tucanos na Câmara José Aníbal, em 24 de janeiro passado, quatro dias antes da votação da reeleição:
"Vocês (imprensa) não conseguiram fazer uma matéria sequer sobre concessão de rádio ou outros favores. Estamos conseguindo fazer a maioria política. Estou positivamente surpreso com os parlamentares ultimamente".
Pois bem, em 24 de janeiro, o titular desta coluna já sabia da tentativa de compra de votos. Gente no governo foi alertada. Todos deram declarações no mesmo nível das de Aníbal.
O tempo passou. E as provas apareceram. Graças ao trabalho abnegado de uma pessoa, identificada nas reportagens com "senhor X", que está prestes a ser massacrado pelo que fez.
Sim, pois a tática tucana é essa. Desqualificar Ronivon por ser do Acre. E vitaminar a disputa fútil da mídia para descobrir a identidade do "senhor X", como se isso importasse.
O que importa agora é saber se a emenda da reeleição vai prosseguir sua tramitação, uma vez que está eivada de vícios na origem.
Isso ninguém comenta com seriedade dentro do governo. A única coisa a fazer é esperar que alguns parlamentares com a cabeça no lugar lancem o movimento "Ah, eu não sou leso", e cobrem resultados das apurações que apenas estão começando.

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