São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Especialistas debatem crise energética

DA REPORTAGEM LOCAL

A convicção de que o setor energético do Brasil precisa de uma profunda reestruturação, baseada na desestatização, para o aumento dos investimentos na ampliação da oferta de energia elétrica e na busca de auto-suficiência em petróleo foi a principal conclusão de um debate entre especialistas sobre a situação da energia no país.
O debate marcou o lançamento, pela editora Nova Fronteira, do livro "A Energia do Brasil" -uma análise histórica da evolução do setor energético no Brasil, de autoria do professor Antonio Dias Leite, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ex-ministro das Minas e Energia e ex-presidente da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce). Foi realizado no auditório da Folha, com o patrocínio conjunto da Price Waterhouse, no dia 12 de maio passado.
Sob a mediação do professor Rogério Cézar de Cerqueira Leite, do Conselho Editorial da Folha, participaram do debate, além de Dias Leite, o deputado Eliseu Resende (PFL-MG), o empresário Paulo Cunha, presidente do grupo Ultra, e o consultor Luiz Carlos Costa, sócio da Price Waterhouse.
Ao apresentar o livro, Dias Leite disse que a pesquisa para sua elaboração deixou-lhe convicto de que é necessária uma profunda reestruturação do setor.
Leite afirmou que as modificações políticas, a favor de uma menor intervenção do Estado nas atividades econômicas e de infra-estrutura, facilitam a proposição de soluções.
O autor disse, porém, que está preocupado com a fase de transição: "Como vínhamos com um certo atraso de investimentos, estamos com a capacidade de atendimento de energia com recursos internos um pouco próxima demais da demanda, por isso vamos passar por um período crítico de dois ou três anos".
O deputado Eliseu Resende (PFL-MG) falou sobre a nova legislação do setor energético, dizendo que o objetivo da proposta do Executivo é dar ao Estado brasileiro um salto de qualidade, ao deixar de exercer para passar a regular as atividades econômicas.
Sobre a quebra do monopólio do petróleo, o deputado Eliseu Resende disse que, após um período de transição, durante o qual será introduzida uma gradual competição no setor, a Petrobrás vai poder fazer parcerias com o setor privado, criando perspectivas de aumento da produção nacional de petróleo e gás.
"A Petrobrás sozinha não teve êxito até agora em todos os seus planos de procura da auto-suficiência", disse.
"Em 1996, o Brasil teve de importar 600 mil barris/dia porque a Petrobrás só conseguiu produzir 800 mil barris/dia para enfrentar uma demanda de 1,4 milhão barris/dia", acrescentou.
Resende, citando os recentes "apagões" em São Paulo, disse que a oferta de energia elétrica está se aproximando muito dos padrões de demanda e de consumo. E defendeu a desestatização do setor com a atração de investimentos privados, dizendo que o setor público, às voltas com o ajuste fiscal, não tem recursos para investimentos públicos na expansão da capacidade instalada de geração de energia elétrica no país.
O empresário Paulo Cunha, do grupo Ultra, chamou atenção para o grande desafio a ser enfrentado por todos os segmentos do setor energético no Brasil.
Esse desafio, disse ele, é original na história energética do mundo, pois resulta da interação simultânea de vários fatores: abertura econômica ao exterior, modificação do regime institucional do sistema político ligado ao setor energético, desestatização com a maior participação maior do setor privado.
Para Luiz Carlos Costa, o setor elétrico ocupa uma posição de destaque no programa de desestatização do governo brasileiro, principalmente porque se trata de setor de grandes dimensões com ativos da ordem de US$ 120 bilhões.
Segundo ele, o empresário estrangeiro está disposto a investir.
"Novos empreendedores já fazem parte do setor elétrico brasileiro, tais como bancos, fundos de pensão e grandes consumidores industriais. Essa presença é um chamariz para que outras empresas de porte também se interessem em aqui chegar."

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