São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Fitas divulgadas pela Folha são autênticas, diz Unicamp

EMANUEL NERI
IGOR GIELOW

EMANUEL NERI; IGOR GIELOW
ENVIADOS ESPECIAIS A CAMPINAS

Laboratório de Fonética Forense diz que vozes são de Ronivon e Maia

As gravações divulgadas pela Folha sobre conversas de parlamentares revelando que receberam dinheiro para votar em favor da reeleição são autênticas e não há nelas nenhum sinal de montagem.
As vozes são mesmo dos deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos expulsos do PFL do Acre na semana passada.
A conclusão é do perito Ricardo Molina, do Laboratório de Fonética Forense da Unicamp (Universidade de Campinas), após análise comparativa das fitas gravadas pela Folha com a fala dos deputados gravadas em outras ocasiões.
O resultado da análise foi entregue no final da tarde de ontem ao deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE), que preside a comissão de sindicância da Câmara que investiga o caso, em Campinas.
Após receber o resultado do laudo, de 78 páginas, Cavalcanti voltou imediatamente para Brasília. "Temos provas evidentes de que a reportagem evidencia a culpabilidade dos parlamentares", disse.
Cassação
Em sua análise, o perito da Unicamp descobriu um novo trecho nas fitas, em que aparecem dois novos nomes -"Célia" e "Almir" (leia texto nesta página).
O trabalho da comissão deve ser encerrado hoje. A Folha apurou que a tendência da comissão é pedir a cassação de seis deputados -além dos cinco que teriam recebido dinheiro, também faria parte da lista o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM).
Pauderney, homem de confiança do governador Amazonino Mendes (PFL-AM), é citado em uma das fitas como tendo intermediado o pagamento aos deputados.
Além de Pauderney, Ronivon e Maia, também devem ter o pedido de cassação de mandatos os deputados Zila Bezerra (PFL-AC), Osmir Lima (PFL-AC) e Chicão Brígido (PMDB-AC).
Por não ser parlamentar, o governador Amazonino Mendes, citado como a pessoa que teria pago os R$ 200 mil por cada voto pró-reeleição, não deverá ser citado no relatório.
Prazos
O deputado Cavalcanti afirmou que poderá pedir a prorrogação dos trabalhos da comissão de sindicância. "Pode ser 12, 24 ou até 48 horas."
Ricardo Molina afirmou que a supressão dos trechos da fala do "Senhor X" não comprometeu a análise sobre a autenticidade das gravações. "Senhor X" é o pseudônimo usado pela Folha para identificar o autor das gravações.
A supressão dos trechos em que ele aparecia conversando com os deputados teve como objetivo evitar que o autor da gravação fosse identificado.
"Nos trechos contínuos que foram analisados não há nenhum indício de montagem", disse Molina. Ele disse que as gravações foram feitas em conversas pessoais, não em telefonemas.
Isso é demonstrável pela análise espectrográfica das vozes, uma espécie de raio X do que foi falado. Acima de determinado limite de frequência, o telefone corta o espectro da fala -os gráficos ficam com um "teto". Na fala, não.
Segundo Molina, nas gravações "há alguns vestígios de vozes falando ao fundo, mas não são inteligíveis". Para o perito, isso pode significar tanto que havia mais pessoas por perto em um ambiente fechado como que a conversa teria sido gravada em local público.

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