São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Iris diz que crime às vezes é 'inevitável'

DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Iris Rezende (PMDB-GO), que amanhã toma posse como ministro da Justiça, disse que "o crime, muitas vezes, é inevitável", ao comentar a morte de ocupantes do conjunto habitacional da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano) em confronto com policiais militares.
Perguntado sobre eventuais "exageros" da PM durante a desocupação, Iris disse que só poderia avaliar o caso depois de "conhecer com profundidade os fatos".
"O crime, muitas vezes, é inevitável. Chega a Justiça e manda desocupar. Você não sabe qual foi a reação do desocupando (sic)", afirmou.
Sempre ressaltando que não havia recebido informações sobre os incidentes de São Paulo, o futuro ministro fez uma análise sobre a violência policial.
"Se disserem que o policial, de hoje em diante, está proibido de qualquer ato de violência, então não adianta mais policial."
A seguir, Iris lembrou sua experiência como advogado para destacar a dificuldade de julgar pessoas, por causa das reações imprevisíveis diante do perigo.
"Eu já estive em mais de cem júris. A sociedade não pode julgar a pessoa que está sentada aqui (referência ao réu) sem atentar para a quantidade de reações das pessoas", afirmou.
"Quando deparam com outro que lhes aponta o revólver, uns desmaiam, outros abrem a camisa, outros agridem. São reações de todos os tipos."
Ao fazer uma análise informal sobre o fato de os policiais estarem armados durante a operação de desocupação, Iris observou que as armas conferem "autoridade".
"Qual a autoridade que um policial militar teria para cumprir uma decisão? Não sei se essa polícia, sem um cassetete ou uma arma, seria respeitada."
O futuro ministro defendeu o aperfeiçoamento da polícia. "É preciso que o policial tenha controle suficiente para portar uma arma."
Iris votou por mudanças no projeto do deputado Hélio Bicudo (PT-SP) que transferia da Justiça Militar para a Justiça comum o julgamento de crimes cometidos por policiais militares.
"Votei a favor da emenda do Senado", disse Iris. Segundo Bicudo, o projeto foi "desfigurado" pelos senadores -somente passaram para a Justiça comum os crimes dolosos contra a vida.
Ao ajudar a modificar o projeto, Iris contrariou a orientação do então ministro da Justiça Nelson Jobim e do presidente Fernando Henrique Cardoso.

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