São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Ação da PM deixa 3 sem-teto mortos

MARCELO OLIVEIRA

MARCELO OLIVEIRA; ROGÉRIO PANDA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sem equipamento adequado, PMs tentam retirar 440 famílias de prédios e entram em choque com invasores

ROGÉRIO PANDA
Pelo menos três sem-teto foram mortos e dez saíram feridos em confronto com a PM no conjunto habitacional em construção na antiga Fazenda da Juta, em São Mateus (zona leste).
A PM foi ao local cumprir ordem do juiz Antonio Carlos Ribeiro dos Santos, da 3ª Vara Cível de Itaquera, para a reintegração de posse da área, invadida desde 3 de maio.
O conjunto invadido é da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano). Os 448 apartamentos dos 14 prédios foram invadidos por 440 famílias de sem-teto da região.
A PM chegou ao local às 6h05. O confronto começou às 7h20 e durou 45 minutos. Os sem-teto fizeram barricadas para tentar impedir a aproximação da PM, mas os policiais conseguiu cercar o grupo.
Segundo os invasores, o combate teria começado a partir da prisão de Nelson Daniel da Silva, o "Suplicy". Silva, segundo sem-teto disseram no local, tentava negociar com a PM. Ele também comandava os invasores.
Um PM deu um tapa no rosto de "Suplicy", que, logo em seguida foi detido. Após a agressão, os invasores entraram em choque com a cavalaria e soldados do 21º Batalhão. Houve correria. Invasores, armados de paus e pedras, atacaram os policiais.
Sem equipamento adequado para operação, como escudos e bombas de efeito moral, os policiais recuaram, usando telhas para se proteger. Em seguida, a PM avançou e foram dados tiros, aumentando o pânico. Três sem-teto, baleados, morreram no local.
As vítimas são o auxiliar de serralheiro Crispim José da Silva, 28, morto com um tiro na nuca; o operário de pavimentação Jurandir da Silva, 29, baleado no tórax, e o pedreiro desempregado Geracir Reis de Moraes, 42, ferido no rosto.
Para o governador Mário Covas, que não afastou nenhum oficial envolvido na ação, a polícia não agiu arbitrariamente (leia na pág. 3). Em nota oficial, a PM disse que os policiais reagiram "à violência praticada pelos invasores." Dezoito PMs teriam sido feridos.
Os oficiais de Justiça que foram junto com a PM cumprir a ordem judicial afirmaram ter ouvido disparos de metralhadora vindos do lado dos invasores.
João da Silva Cambur, Haroldo Santos, Aurivana Ferreira e Clarice Jerônimo afirmaram não ter visto nenhum policial portando esse tipo de arma. Por isso, acreditam que esse disparos tenham partido dos sem-teto. "Mas nenhum de nós viu qualquer invasor atirando", disse Cambur.
O chefe da Casa Civil do Governo, Walter Feldman, se reuniu ontem à noite com invasores e representantes dos movimentos dos sem-teto, mas até as 22h não havia sido encontrada solução.
Feldman disse que a reintegração estava mantida e seria feita hoje, com apoio policial, se necessário. Os invasores faziam vigília ontem à noite para evitar nova ação.
A ação de reintegração de posse foi movida pelas construtoras Cappellano e Múltipla, responsáveis pela construção do conjunto.

LEIA MAIS da pág. 3 à pág. 7

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